Com poucos sinais de progresso no campo diplomático e ressuscitando uma retórica da Guerra Fria, a Rússia anunciou nesta terça-feira, 25, uma série de exercícios militares em seu vasto território, do Oceano Pacífico até o flanco ocidental, ao redor da Ucrânia, incluindo unidades de mísseis balísticos de curto alcance. "Estamos observando as ações dos EUA com profunda preocupação", disse Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin.
As manobras são uma resposta ao envio de navios, caças e soldados da Otan para o Leste Europeu, para evitar uma incursão russa na Ucrânia. O movimento de tropas foi uma forma de demonstrar o vasto arsenal russo, com tanques, drones, tropas de infantaria e paraquedistas de elite em unidades posicionadas ao norte, sul e leste do território ucraniano.
Vídeos mostraram soldados preparando mísseis balísticos Iskander-M, de curto alcance, e o desembarque de tanques e de outros equipamentos das plataformas de trens em Belarus. Segundo o Ministério da Defesa da Rússia, os exercícios foram simultâneos às manobras conjuntas de três navios russos com a frota chinesa no Mar Arábico.
Ontem, o governo americano ampliou ainda mais a pressão sobre a Rússia em três frentes. O presidente dos EUA, Joe Biden, colocou 8,5 mil soldados de prontidão para um possível deslocamento para a Europa Central e Oriental para reforçar as defesas da Otan, anunciou um acordo com países produtores de gás natural, para suprir a demanda europeia em caso de guerra, e fechou um acordo com aliados da Europa para um novo pacote de sanções à Rússia.
<b>Alerta máximo</b>
John Kirby, porta-voz do Pentágono, disse ontem que os 8,5 mil soldados dos EUA colocados em "alerta máximo" seriam uma garantia de segurança para países da Europa Oriental, que temem que a Rússia aproveite a invasão da Ucrânia para ocupar o Báltico ou outras ex-repúblicas soviéticas – Moscou trata essa hipótese como "histeria" dos americanos.
Outra ferramenta diplomática que Biden tem nas mãos são as sanções. Mas, para otimizar a pressão sobre a Rússia, ele precisa coordenar as medidas com a Europa. Muitos governos europeus, no entanto, são dependentes da importação de gás natural russo, principalmente a Alemanha, e temem ficar sem aquecimento residencial e nos locais de trabalho em caso de conflito. Esse nó a diplomacia americana parece ter desatado ontem, ao anunciar um acordo com fornecedores de gás e petróleo do Oriente Médio, Norte da África e Ásia para suprir a demanda da Europa.
<b>Sanções</b>
A ideia dos americanos é que, uma vez garantido o fornecimento de energia, os aliados europeus podem embarcar em um pacote de sanções mais pesado contra Moscou. Ontem, autoridades dos EUA anunciaram uma "convergência" com a UE para adotar medidas financeiras contra os bancos da Rússia, que poderiam ser isolados do sistema internacional de pagamentos.
Outra possibilidade é impor novos controles de exportação que impediriam os russos de receberem semicondutores e outras peças-chave para a indústria, engessando especialmente o setor de energia do país.
"A tolerância de Putin a impactos econômicos pode até ser maior do que a de outros líderes. Mas há um limite, acima do qual achamos que seu cálculo pode ser influenciado", afirmou ontem um funcionário de alto escalão do governo Biden ao jornal Financial Times. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS).
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>