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Salvatti canta para celebrar inauguração de monumento sobre ditadura

A ministra da Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência, Ideli Salvatti, cantou para celebrar a inauguração do Monumento em Homenagem aos Mortos e Desaparecidos Políticos, na zona sul de São Paulo. Ao lado do prefeito Fernando Haddad (PT), Ideli cantou trechos de Réquiem para Matraga, de Geraldo Vandré, e de Pesadelo, de Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro.

A ministra usou a música no meio do discurso para valorizar as vítimas da ditadura, que lutaram e muitas até morreram pela democracia. “Vim aqui só pra dizer/ninguém há de nos calar/se alguém teve que morrer/que seja pra melhorar”, cantou a ministra. Ideli citou a presidente Dilma Rousseff (PT), que foi presa e torturada durante a ditadura, e lembrou a importância de manter viva a memória do que aconteceu no País. “Temos aqui muitos cabelos brancos, a sabedoria acumulada dos que sofreram, dos que perderam entes queridos. mas também e principalmente a sabedoria dos que lutaram contra a cruel ditadura civil-militar que durante 21 anos se abateu sobre o povo brasileiro.”

A ministra lamentou as manifestações de rua recente que pediram intervenção militar e saudou a iniciativa da capital paulista em erguer o monumento, o primeiro do tipo na cidade. Para a ministra, políticas como a inauguração são importantes “para que ninguém ouse imaginar que possa ser bom que ou que a gente possa querer dar esse passo atrás (de retorno à ditadura)”. Em direção ao movimento, a ministra afirmou: “olha aí, olha o monumento, não vamos esquecer jamais”.

Haddad também comentou as manifestações recentes e disse que o monumento é mais um instrumento para preservar a memória do “período negro” da História brasileira, para que todos conheçam e evitem retrocessos. Ainda assim, o prefeito ressaltou pesquisa Datafolha que mostrou que 66% dos brasileiros consideram a democracia a melhor forma de governo, melhor índice desde o início da série histórica do levantamento, em 1989.

O monumento, criado pelo arquiteto Ricardo Ohtake, traz o nome de 463 mortos e desaparecidos políticos. Ele participou do evento e agradeceu a oportunidade de retratar com sua obra a luta dos militantes políticos. Ao fim do seu discurso, agradeceu a Haddad e ao secretário de Direitos Humanos do município, Rogério Sotille. Esqueceu-se de citar Ideli, que em tom de brincadeira questionou: “E eu?”.

Ideli, na sequência, cometeu uma gafe em seu discurso ao agradecer ao artista “Tomie Ohtake” pela obra. A arquiteta Tomie Ohtake, reconhecida internacionalmente é mãe de Ricardo e estava na primeira fila da plateia. Haddad, que falou pouco depois de Ideli, discretamente emendou a fala da ministra elogiando a família Ohtake e falando da importância para a arquitetura e arte brasileiras.

O prefeito, de 51 anos de idade, disse ter vivido apenas os anos finais do período e, por isso, ter tido apenas uma “pálida ideia” do que foi a ditadura. Afirmou saber hoje mais sobre o que foi o período de privação de liberdades individuais que à época e justificou ser essa a importância de haver monumentos que relembrem o que se passou. Ele destacou ainda a posição privilegiada do monumento inaugurado nesta segunda-feira.”Nós estamos muito próximos da Abílio Soares, da rua Tutoia, dos quartéis, estamos muito próximos da onde a repressão se deu e muitas mortes aconteceram. Então, é um monumento que está em um local muito estratégico para São Paulo.”

O evento reuniu lideranças políticas e familiares de vítimas, entre elas a viúva de Carlos Marighella, Clara Charf, Maria Amélia Teles, a Amelinha, que entrou com ação contra o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra por tortura a familiares seus, além de Vera Paiva, filha do deputado Rubens Paiva, cujas circunstâncias do desaparecimento e morte até hoje não foram esclarecidas.

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