Segundo o Manual de Recomendações para o Controle da Tuberculose no Brasil, editado pelo Ministério da Saúde em 2018, a incidência da doença nas pessoas em situação de rua é 56 vezes maior que os casos identificados no restante da população (TBWEB 02. maio. 2014). Da mesma forma, aponta o estudo que o indicador no sistema prisional é aproximadamente 28 vezes superior à da média geral (BRASIL, 2016). Por isso, a Secretaria de Saúde promove em seu auditório no próximo dia 23, das 8 às 12 horas, uma capacitação para o atendimento desse público mais vulnerável.
O objetivo é ampliar o conhecimento sobre a doença, seus fatores de risco, formas de prevenção e tratamento. Para tanto, o público-alvo da capacitação são os profissionais do Consultório na Rua do SUS, trabalhadores da Secretaria de Desenvolvimento e Assistência Social que atuam em diversos serviços, tais como, abordagem de rua, Restaurante Popular, Casas de Acolhida, instituições de longa permanência entre outros. Também serão capacitados os funcionários das quatro unidades prisionais e Centros da Fundação Casa do município.
Desencadeada pelo Departamento de Assistência Integral à Saúde em conjunto com a Vigilância Sanitária Municipal, a capacitação será realizada por profissionais do Programa Municipal de Controle da Tuberculose. Além de discorrer sobre a doença, sintomas e tratamento, os especialistas também falarão da importância da busca ativa de casos suspeitos, uma vez que a principal medida para interromper a cadeia de transmissão da doença é a identificação precoce e o tratamento oportuno dos casos existentes.
Problema de saúde pública:
O Manual do Ministério da Saúde elenca a tuberculose como um sério problema de saúde nas prisões brasileiras, por apresentar relativa frequência de formas resistentes e multirresistentes. Além disso, pelo fato de que o risco de contrair a doença é partilhado entre a população privada de liberdade, guardas, profissionais de saúde, visitantes e entre todas as pessoas que frequentam as prisões.
Ainda segundo o Ministério, a prevalência de tuberculose ativa na população encarcerada masculina, avaliada através de inquéritos radiológicos, variou entre 4,6% e 8,6% nas prisões do Rio de Janeiro, sendo que em Porto Alegre foi ainda maior: de 9,0%. Revela ainda que o estudo realizado no Rio mostrou que 84% dos doentes adquiriram a doença na prisão.
Da mesma forma, o Manual do Ministério aponta que na cidade de São Paulo, em 2013, por meio do sistema de notificação TBweb, foi possível obter, utilizando a variável “sem residência fixa”, o coeficiente de incidência de 2.138 casos de tuberculose para cada 100 mil habitantes. Mostra também que estudos realizados no Rio de Janeiro e em Porto Alegre demonstraram incidências da doença entre 1.576 e 2.750 para cada 100 mil habitantes e mortalidade de 17.800 por 100 mil nessa população.
Outro ponto destacado no estudo foi a alta taxa de abandono ao tratamento da tuberculose entre essa população em situação de rua na capital fluminense, atitude que foi relacionada à baixa autoestima, à alimentação inadequada, ao uso do álcool e outras drogas e à própria dinâmica da rua, que não contribui para que os medicamentos sejam tomados com regularidade, além de relatos de roubo dos pertences individuais ou seu recolhimento pelos órgãos públicos, levando, também, os medicamentos sob os cuidados do doente (Carbone, 2000).