Cidades

Saúde, um bem precioso

Foi motivo de pânico a divulgação de uma pesquisa produzida por laboratórios farmacêuticos sobre a ineficácia de remédios contra o colesterol na prevenção de ataques cardíacos.


O que se revelou não foi um defeito na fabricação dos medicamentos, nesses casos específicos produzidos à base de estatina. Essa descoberta apenas reforça a tese de cardiologistas renomados que começam a reconhecer a inexistência de relação entre a redução do nível de colesterol ruim (LDL) e a obstrução de artérias que provocam os infartos e derrames.


Não é de hoje que a Ciência faz vista grossa contra a associação entre o colesterol e os ataques cardíacos. No ano passado, o cardiologista e pesquisador francês Michel de Lorgeril gerou polêmica ao chamar a batalha contra o colesterol de “uma corrida louca da medicina preventiva concentrada em uma guerra inútil”.


No livro “Diga ao Seu Médico que o Colesterol é Inocente”, ele destaca que as pessoas acham que podem continuar a comer gordura e a fumar somente por fazerem uso de algum tipo de remédio contra o colesterol. Sem dúvida, se trata de uma constatação surpreendente, sobretudo porque dezenas de milhões de usuários em todo o mundo fazem uso atualmente de remédios à base de estatina.


Assim como outros cientistas, Lorgeril sustenta que os ataques cardíacos têm origens diversas e são provocados mais pelo estilo de vida de uma pessoa do que pelos remédios que ela deixar de ingerir. Maus hábitos como o sedentarismo, o tabagismo, alimentação de péssima qualidade e o histórico de incidência da doença na família são os principais causadores de doenças do coração.


Nas próprias palavras de Lorgeril, um ataque cardíaco é geralmente fruto de um quadro “multifatorial”, o que afasta completamente a idéia de que somente a redução dos níveis de colesterol ruim do sangue pode salvar vidas.


Quem faz uso da estatina, não deve entrar em pânico. A polêmica em torno dos medicamentos vai ganhar novos capítulos nos próximos meses, com a divulgação de novos resultados da pesquisa realizada pelos laboratórios farmacêuticos.


Mas há pelo menos uma certeza: temos de nos submeter a mudanças de hábitos para atravessar essa longa jornada com menos percalços. A polêmica em torno das drogas contra o colesterol apenas potencializa a tese de que temos de adotar hábitos saudáveis para viver bem.


Tenho certeza de que nenhum médico ou cientista vai se opor a quem deseja começar a fazer exercícios, ou àqueles que pretendem abandonar de vez o cigarro e o excesso de gordura dos alimentos.


Essas mudanças no comportamento independem da idade. Mas, quanto mais cedo mudarmos nossa mentalidade, melhor. Assim poderemos reduzir as chances de uma velhice turbulenta e ainda servir de espelho para os mais novos. É uma opção sábia, que pode reduzir os danos de várias doenças em nosso futuro.


* Milton Dallari é consultor empresarial, engenheiro, advogado e presidente da Associação dos Aposentados da Fundação Cesp. O e-mail para contato é o [email protected].


 

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