Sem acordo, Avenida Paulista deve ter três manifestações no domingo

A Avenida Paulista deve receber três manifestações de rua em um espaço de quatro horas amanhã. Após duas reuniões, não houve, ontem, acordo entre Polícia Militar (PM), Ministério Público Estadual (MP), manifestantes que defendem o governo do presidente Jair Bolsonaro, movimentos antirracistas e opositores do mandatário, como representantes de torcidas de futebol e integrantes da Frente Povo Sem Medo.

Apesar de não haver acordo, grupos antirracistas e contra Bolsonaro negociavam, até a conclusão desta edição, unificar seus atos e tomar medidas para evitar que se encontrem com os defensores do presidente, segundo líderes desses grupos. Uma das propostas da Frente Povo Sem Medo, segundo o professor Guilherme Simões, é fazer uma caminhada do Masp até a Praça Roosevelt, passando pela Rua da Consolação. Com isso, eles evitariam contato com o grupo que defende o governo federal.

No domingo passado, a PM usou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar protesto de grupos de torcedores que se declaram antifascistas na Avenida Paulista. Os torcedores disseram que a confusão começou porque um bolsonarista se infiltrou na mobilização.

Os apoiadores de Bolsonaro pretendem se reunir em frente à Fiesp às 11h. Inicialmente, o movimento negro pretendia começar o ato às 10h no Masp. O grupo pode se juntar à manifestação das 14h, no mesmo lugar, que reuniria torcedores de futebol e movimentos sociais. "Não teve consenso", disse Simões. "Nosso intuito é fazer um protesto de forma pacífica". Simões afirmou ao Estadão que, além da caminhada, o ato terá profissionais da Saúde, cujo trabalho será garantir que as pessoas mantenham uma distância de um metro e meio entre si, e distribuição de máscaras e de álcool em gel.

Na segunda-feira, o governador João Doria (PSDB) havia determinado que atos de grupos opostos não poderiam ocorrer na mesma data, horário e local para "assegurar o direito às manifestações e preservar a segurança dos participantes". De acordo com pessoas que estiveram na reunião, o acordo não foi possível porque nenhum dos grupos aceitou as propostas do governo paulista. O objetivo das reuniões, segundo o secretário da Segurança Pública, João Campos, era chegar a um acordo para que um dos grupos fizesse seu ato no sábado ou em outro lugar da cidade.

Oficialmente, a PM diz que vai tentar negociar até o último minuto para evitar que grupos antagônicos se reúnam no mesmo lugar no fim de semana. Mas a corporação já prepara um reforço no policiamento na avenida Paulista. "Nessas manifestações, usaremos as informações que temos nos nosso planejamento para identificar e agir contra pessoas ou grupos que tentem impedir o uso deste direito constitucional (de manifestação)", disse o secretário, ontem, durante coletiva de imprensa ao lado de Doria. Ele afirmou que a PM deverá fazer revistas em pessoas que querem participar do ato. "(Faremos) revistas criteriosas para evitar que as pessoas possam levar objetos que possam causar dano em outras pessoas."

<b>Manifestos</b>

Grupos que divulgaram manifestos pró-democracia ao longo da semana não recomendam a presença de apoiadores nos atos marcados para domingo. Há o temor por parte desses grupos, criados por entidades da sociedade civil e personalidades, que a manifestação termine em briga generalizada, como ocorreu domingo passado, o que daria uma narrativa para o governo Jair Bolsonaro condenar seus adversários – o presidente já classificou os manifestantes contrários a seu governo de "idiotas, marginais e viciados". Além disso, os grupos citam o risco de contaminação em meio à pandemia do novo coronavírus.

Para o sociólogo Marcelo Issa, coordenador do Transparência Partidária, uma das 130 organizações que fazem parte do Pacto pela Democracia, o ponto principal é a questão sanitária e a violência por parte dos bolsonaristas nas ruas. "O que me preocupa é a atuação de civis armados e a reação dos que apoiam Bolsonaro", afirmou.

Ele defende que durante a pandemia as manifestações contra o governo ocorram em formatos alternativos, como panelaços e panos pretos nas janelas das casas. "Mas não condeno quem sai às ruas."

Criador do Somos 70%, o engenheiro Eduardo Moreira disse que "respeita e compreende" quem for para a Paulista no domingo. "Não recomendo que se juntem ao ato pelo risco sanitário, mas respeito e recomendo as pessoas que cruzaram essa linha", afirmou.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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