Cidades

SEMANA DA MULHER – Ela nasceu de 21 semanas e com 500 gramas, perdeu a visão e superou a previsão da medicina

GuarulhosWeb traz histórias de guarulhenses guerreiras que dignificam o Dia Internacional da Mulher

Diferente das matérias anteriores com as histórias de Maria Estela e Vanessa, que superaram dificuldades e hoje transformam vidas com seus trabalhos, a terceira publicação com mulheres que inspiram retrata uma dupla de mãe e filha. Juntas, Beatriz e Fabiana venceram obstáculos impressionantes.

Casada, Fabiana Eulina Canosa Rocha – hoje aos 41 anos – engravidou aos 29. A gestação corria bem até o final de novembro de 2009. “Os exames estavam normais. Trabalhava bastante e não tive problemas até bolsa descer, sem estourar. A Bia ia nascer de cinco meses. Corremos muito para chegar ao hospital e sou muito grata aos motoboys, porque eles que abriram caminho para que meu esposo e eu chegássemos”, afirma.

Ao pisar na unidade de saúde, Fabiana recebeu uma difícil notícia. “No elevador mesmo o médico falou que a Beatriz não ia sobreviver pelo tempo de gestação, que era impossível. Fiquei a segurando durante quatro dias e três noites com contrações muito fortes e me posicionei de cabeça para baixo e quadril para cima para que a bolsa não descesse mais. Tomei a vacina para ajudar o pulmão e ela nasceu”, completa.

Bia veio ao mundo com 21 semanas de vida, com exatas 540 gramas, depois perdeu outras 200 e chegou a pesar pouco mais de 300 gramas. Entretanto, segurar as contrações durante quatro dias para que a menina desenvolvesse um pouco mais os órgãos, tornou o parto ainda mais complicado e deixou a mãe em risco. “Pedi para desligarem os aparelhos e meu esposo assinou, com meu consentimento, um termo de responsabilidade porque morreríamos ela, eu ou ambas. Eu tremia muito, não conseguia comer, estava com dor nas costas, dor dos vários dias de contração segurando para a Bia não nascer”, explica.

Fabiana se recorda com carinho da médica que mudou o destino de sua filha com uma atitude nada comum na medicina. Ela mudou o tempo de gestação da criança para que o convênio pudesse investir no socorro. No prontuário, não fosse incluída a falsa informação de que Bia nascera com 23 semanas e meia, ela seria descartada até que a morte a levasse. “A doutora pediu pra eu não falar pra ninguém, senão ela perderia o emprego. E que, pelo tempo de gestação, era um abordo, mas a vida valia mais”, lembra.

Ainda assim, Bia teve passou por maus bocados, sobretudo no seu primeiro ano de vida. A menina sofreu diversas paradas respiratórias, era desenganada quase que diariamente pela equipe médica, teve coágulo grau 1 na cabeça, princípio de meningite, mau funcionamento de rins e intestino, pneumonias por conta do pulmão mais sensível e operou o coração com 14 dias de vida.

O diagnóstico da cegueira veio depois, aos cinco meses, quando Bia ainda estava internada. Ao todo, ela passou sete meses na UTI, quatro deles entubada. Depois, foram mais cinco meses internada em casa com tubo de oxigênio. Segundo Fabiana, houve um descolamento de retina grau 5 enquanto a criança ainda estava sob os cuidados do hospital. Depois, um médico renomado informou que nada poderia ser feito no caso, nem mesmo uma intervenção cirúrgica.

Aos 11 anos, Bia anda e fala pouco e, quando atinge o extremo, chega a se agredir. “O desenvolvimento é devagar. Ela tem um atraso cognitivo gritante, embora nada apareça nos exames. Não há diagnóstico de autismo devido à prematuridade extrema”, justifica Fabiana.

Bia experimentou comida sólida pela primeira vez aos três anos. Nesta mesma idade, a garota teve outra vitória e se tornou uma das estrelas da Companhia Fernanda Bianchini de balé para cegos. “Eles a aceitaram e a amaram do jeito que ela é, e ajudou muito no convívio com outras crianças”, orgulha-se Fabiana ao recordar apresentações em locais importantes, como o Ginásio do Ibirapuera absolutamente lotado.

Dificuldades com os gastos

“Eu não trabalho mais. Os cuidados com a Bia exigem minha máxima dedicação. “O Claudinho, meu esposo, também já teve que sair de alguns empregos porque eu não conseguia dar conta e até hoje procura serviços que sejam flexíveis”, relata a mãe, que lamenta não conseguir levar Beatriz em todos os profissionais necessários para o tratamento de Beatriz. O convênio cobre o básico e não repõe custos com ABA (terapia para o autismo), fonoaudiologia, fisioterapia, terapia ocupacional, hidro, música e equoterapia com especialistas capacitados para os cuidados que a condição da menina exigem. A estimativa é que o custo mensal de todo suporte à criança beire os 10 mil reais por mês, valor que o casal não tem disponível.

Escolas negam Beatriz

“Um advogado pegou nossa causa para tentar colocá-la na escola. Ela só fez o pré e praticamente todas as escolas de Guarulhos a recusaram, com exceção de uma, na qual não temos condições de arcar com a mensalidade”, lamenta Fabiana ao explicar a ausência de Beatriz no colégio. 

A mãe ainda tem esperança de conseguir matricular a filha em um colégio regular, com valores e tratamentos justos à filha. “O grande sonho é encontrar uma escola que a abrace com respeito”, enfatiza.

Menina alegre

Apesar de todos os obstáculos vencidos, Bia é uma menina de riso fácil, que adora assistir televisão, ouvir música e brincar com aparelhos sonoros. A ligação entre a menina e os pais é única e emocionante para os conhecedores da história. “Ela representa um grande ensinamento de vida, superação e vitória. A Bia, mesmo doente, não se entrega e se recupera logo. Ela é muito amorosa e, sem dúvida, é o amor mais puro que existe. Se ela nunca reclamou, quem sou eu pra reclamar? Milagre não se explica, se vive”, conclui Fabiana.

Posso ajudar?