Estadão

Separatistas preparam retirada após pior bombardeio em anos no leste da Ucrânia

Separatistas apoiados pela Rússia no leste da Ucrânia disseram nesta sexta-feira, 18, que planejam retirar os moradores de sua região para enviá-los à Rússia após bombardeiros intensos no leste ucraniano. Vendo a situação como uma nova escalada, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, se reúne nesta sexta com outros líderes ocidentais.

O anúncio de retirada foi feito por Denis Pushilin, chefe da autoproclamada República Popular de Donetsk, nas redes sociais. Segundo ele, a Rússia concordou em fornecer acomodação para aqueles que partirem.

Mulheres, crianças e idosos devem ser retirados primeiro. Logo após o anúncio de Donestk, uma segunda região separatista, Luhansk, informou estar organizando planos de retiradas.

Questionado sobre os movimentos, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que não tinha informações sobre a situação e não sabia se eles estavam sendo coordenados com a Rússia, informou a agência de notícias russa <i>Interfax</i>.

Acredita-se que milhões de civis vivam nas duas regiões controladas pelos rebeldes no leste da Ucrânia. A maioria é falante de russo e muitos já receberam a cidadania russa.

A zona de conflito do leste da Ucrânia viu o mais intenso bombardeio de artilharia em anos nesta sexta-feira, com o governo de Kiev e os separatistas trocando acusações. Países ocidentais disseram acreditar que o bombardeio, que começou na quinta-feira e se intensificou em seu segundo dia, é parte de um pretexto russo para invadir.

Os Estados Unidos disseram que a Rússia, embora tenha dito que começou a retirar tropas perto da Ucrânia nesta semana, está fazendo o oposto: aumentou a força que ameaça seu vizinho para entre 169.000 e 190.000 soldados, dos 100.000 no final de janeiro.

"Esta é a mobilização militar mais significativa na Europa desde a Segunda Guerra Mundial", disse o embaixador dos EUA, Michael Carpenter, em uma reunião na Organização para Segurança e Cooperação na Europa, com sede em Viena.

Uma fonte diplomática com anos de experiência direta no conflito descreveu o bombardeio no leste da Ucrânia como o mais intenso desde que os grandes combates terminaram com um cessar-fogo em 2015.

Ao lado do líder de Belarus, Alexander Lukashenko, Vladimir Putin disse ver um agravamento da situação em Donbass, bacia onde ficam as regiões separatistas. Segundo ele, "o cumprimento dos Acordos de Minsk são a garantia para a restauração da paz na Ucrânia e para o fim das tensões em torno deste país". "Tudo o que Kiev precisa fazer é sentar-se à mesa de conversas com representantes de Donbass e concordar com medidas políticas, militares, econômicas e humanitárias para acabar com o conflito", acrescentou.

Cerca de 600 explosões foram registradas na manhã de sexta-feira, 100 a mais do que na quinta-feira, algumas envolvendo artilharia de 152 mm e 122 mm e morteiros de grande porte, informaram agências internacionais, segundo fontes.

Outras autoridades contestaram essa caracterização, observando que houve períodos de combates mortais durante o cessar-fogo e que não houve relatos até agora de mortes na linha de frente nesta semana.

A Rússia nega as acusações ocidentais de que está planejando uma invasão total da Ucrânia, um país de mais de 40 milhões de pessoas, no que seria potencialmente a maior guerra da Europa em gerações.

Os países ocidentais disseram esta semana que as tropas russas estão fazendo nos últimos dias o tipo de preparação normalmente vista antes de um ataque, que pode ocorrer em poucos dias.

Moscou, por sua vez, disse que está observando de perto a escalada de bombardeios no leste da Ucrânia, onde as tropas do governo enfrentam rebeldes apoiados por Moscou desde 2014. Ele descreveu a situação como potencialmente muito perigosa.

<b>Biden se reúne com Aliados</b>

Na advertência mais detalhada dos EUA sobre a probabilidade de guerra, Antony Blinken disse ao Conselho de Segurança da ONU na quinta-feira, 17, que Washington acreditava que a Rússia estava planejando um ataque total. Segundo Blinken, isso poderia começar com um pretexto fabricado, possivelmente envolvendo um ataque falso e acusações falsas sobre o conflito separatista.

Joe Biden, convocando aliados para manter uma posição unificada, fará uma ligação nesta sexta-feira com líderes do Reino Unido, Canadá, França, Alemanha, Itália, Polônia e Romênia, além da União Europeia e da Otan.

Mas a Rússia também pressionou com força um conjunto de exigências de segurança, incluindo uma promessa de que a Ucrânia nunca será admitida na Otan, que o Ocidente chama de não-aceitável. Na quinta-feira, a Rússia entregou uma carta com palavras fortes aos Estados Unidos, ameaçando "medidas técnico-militares" não especificadas.

A Rússia anunciou que Putin supervisionaria pessoalmente os exercícios de suas forças estratégicas de mísseis nucleares no sábado, embora tenha dito que esses exercícios não eram motivo de alarme.

Entre as ambiguidades em torno das intenções do Kremlin estão os planos para dezenas de milhares de tropas realizando exercícios em Belarus, norte da Ucrânia, que devem terminar no domingo. Moscou disse que as tropas voltariam à Rússia em algum momento após os exercícios, mas não disse quando.

Alexander Lukashenko se encontrou com Putin na sexta-feira para discutir a presença de tropas. Antes da reunião, sugeriu que os russos pudessem ficar.

"As forças armadas ficarão o tempo que for necessário", disse Lukashenko, segundo a agência estatal de notícias <i>BelTa</i>. <i>COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS</i>

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