Opinião

Será que a administração municipal trata a cultura com a devida atenção?

Existe uma velha discussão na sociedade que envolve o papel do poder público no incentivo à cultura. Muitos defendem que os governos invistam maciçamente nos movimentos populares que, em tese, são os mais indicados para que as verdadeiras expressões da população aflorem. Nas comunidades, pessoas simples encontram oportunidades para demonstrar seus talentos, seja por meio de um instrumento musical, uma habilidade física, de um talento artístico, entre outras formas de manifestação. Esse conjunto pode ser entendido com a verdadeira cultura popular.


 


É muito comum se perceber em comunidades o advento de diversas manifestações populares, que se constituem nas expressões culturais de um povo. Muitos – das mais diferentes idades – se reúnem em associações de bairro, em igrejas, em estabelecimentos comerciais para formar grupos que, de uma forma ou outra, produzem cultura.  Assim surgiram importantes movimentos com a intensa participação da população. Um exemplo bem recente são os grupos de rap que se originaram nas periferias das grandes cidades e ganharam espaço até entre as elites. Há que se ressaltar que, muitas vezes, essas manifestações ganham corpo – literalmente – às margens da sociedade, sem qualquer participação dos poderes públicos que, em tese, poderiam facilitar a vida dessa gente, das mais diferentes formas.


 


Em Guarulhos, a situação não é diferente. As expressões culturais da população, infelizmente, não conseguem o apoio necessário da administração, que parece preferir usar as verbas públicas para importar manifestações culturais, sem priorizar a gente que vive nos mais diferentes recantos do município. Desta forma, enquanto um grupo de teatro ou dança encontra as mais sérias dificuldades para buscar algum tipo de financiamento para viabilizar seus projetos, por menores que sejam, é comum ver a Prefeitura contratando shows e espetáculos, a peso de ouro, que acabam voltados a uma pequena parcela da população.


Durante muitos anos, falava-se que Guarulhos não tinha um teatro sequer para receber espetáculos protagonizados por artistas de renome no cenário nacional. Foi construído o Centro Educacional Adamastor, com verbas da Secretaria da Educação, com um belo espaço para receber esses eventos. Desta forma, só para citar um exemplo, abriu-se um grande escoadouro de recursos públicos, geralmente dispensados a alguns produtores que detém uma espécie de monopólio em relação aos “grandes artistas”.


 


Ao mesmo tempo, não se teve o cuidado dedispensar atenção parecida aos verdadeiros fomentadores da cultura popular. Esses, caso não sigam os interesses daqueles que detém o poder, estão fadados a produzir cultura com as próprias pernas. Na edição de ontem, o Guarulhos Hoje trouxe reportagem que mostrou o dinheiro gasto pela Secretaria da Cultura apenas com duas festas de grupos de motociclistas que – de seu modo – produzem cultura também. Mas será que é esse o papel de uma administração municipal? Com a palavra os interessados: as pessoas que esperam por toda uma vida alguma oportunidade de se manifestar. De fazer cultura. De se expressar. Talvez, a política atual seja a correta mesmo. Mas vale o questionamento. Afinal, por meio do debate também se produz cultura.

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