Estadão

Servidores da Abin pedem a Lula que encerre ciclo de intrusos no comando da agência

As trocas promovidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) levaram servidores da instituição a divulgarem uma carta aberta nesta quarta-feira, 31, com críticas a nomeações de pessoas "sem experiência" na área para o alto escalão da agência.

"É necessário que a atividade seja conduzida por quem conhece seus meandros. As reiteradas nomeações de pessoas que não possuem experiência na prática de Inteligência Nacional para posição de direção fragilizam a atividade", diz a carta endereçada ao presidente. "Ingressamos na Abin por concurso público e temos mulheres e homens preparados para dirigir a agência à qual dedicamos toda uma vida."

Lula exonerou ontem o número dois da Abin, Alessandro Moretti, em meio às investigações da Polícia Federal sobre o aparelhamento da agência no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Outros seis diretores também foram substituídos.

O presidente manteve o delegado Luiz Fernando Corrêa, nome de sua confiança, no comando do órgão. Os dois mantém uma longa relação – Corrêa foi diretor-geral da Polícia Federal no segundo mandato de Lula. O delegado vem sofrendo desgaste desde que a PF levantou suspeitas de "conluio" entre a atual gestão da Abin e a direção anterior para evitar que monitoramentos ilegais viessem a público.

Os servidores da Abin defendem ainda, na carta, a criação de uma vara judiciária especial para autorizar ações de inteligência. "Nossas servidoras e servidores precisam trabalhar com apropriada segurança jurídica."

O texto afirma que as medidas são necessárias para proteger a atividade de interesses político-partidários.

"O momento atual parece ter convencido a todos sobre o que já defendemos há anos: a inteligência precisa ser reformada. Precisamos definir, na lei, nossas atribuições e ferramentas de trabalho."

A Abin é o principal órgão do sistema de inteligência federal e tem como atribuição produzir informações estratégicas sobre temas sensíveis, como ameaças à democracia e às fronteiras, segurança das comunicações do governo, política externa e terrorismo. Para a PF, a agência foi instrumentalizada no governo Bolsonaro e usada para atender interesses privados do grupo político do ex-presidente.

Posso ajudar?