Quando Cicero Mossoró subiu à tribuna da Câmara para acusar Atílio Pereira de corrupção, abria-se uma fresta na cortina de fumaça que envolve a concessão dos transportes públicos em Guarulhos, no sistema implantado em 2010.
Vale frisar que, na época, Mossoró era presidente do SindLotação, entidade que reunia parte dos perueiros que rodavam em Guarulhos.
Mossoró foi uma das principais lideranças do setor que abraçaram as ideias propagadas por Sebastião Almeida e pelo então secretário Evaldo. Defendeu com unhas e dentes (e outras coisinhas mais) a substituição das peruas por micro-ônibus, para formar o sistema alimentador, operado pelos permissionários. Tornou-se rapidamente mal visto por boa parte dos perueiros de Guarulhos, que não queriam deixar suas vans e aderir à nova forma de transportar passageiros na cidade. da forma como a Prefeitura propunha. Foram meses de guerra não declarada, quando muitos donos de lotação ganharam na Justiça o direito de se manter nas ruas. A situação perdurou até um ano atrás, quando Atílio conseguiu derrubar todas as ações no Tribunal de Justiça.
Mossoró montou uma cooperativa de micro-ônibus e foi escolhido como presidente. Em vez de dirigir velhas peruas, passou a atuar como um novo empresário do setor dos transportes, coordenando a compra dos novos veículos e sendo um dos principais porta-vozes dos chamados micreiros.
Mas o reinado de Mossoró ao lado da Prefeitura terminou mais ou menos junto com a saída de Evaldo da Prefeitura e ascensão de Atílio. Já na nova licitação realizada em 2012, por determinação da Justiça que anulou as decisões anteriores em relação aos permissionários, Mossoró se afastou. Tanto que hoje as denúncias que faz de formação de cartel se referem justamente a esse pleito. Na mesma época, foi para o PSDB, principal partido de oposição ao governo Almeida, e se candidatou a vereador, com a missão de representar os micreiros. Ficou como primeiro suplente e já assumiu a vereança várias vezes neste mandato, quando algum dos tucanos titulares se licencia do cargo, condição que se encontra neste momento.
Se as denúncias de Mossoró são verdadeiras ou não, cabe ao Ministério Público Estadual apurar. Aliás, nesta quarta-feira, o vereador foi chamado pelo promotor Zenon Lotufo para apresentar a documentação que ele diz ter e que confirmaria as denúncias. Porém, fica muito claro que ele sabe sobre o que está falando, com a propriedade de alguém que conhece de muito perto as entranhas que envolvem esse sistema de transportes de Guarulhos.
Principais acusações de Mossoró
– formação de cartel durante o processo que escolheu os permissionários para atuar no transporte público de Guarulhos, em concorrência pública realizada em fevereiro de 2012.
– combinação de outorga (valor pago por permissionário) no valor de R$ 35 mil. 115 proprietários de micro-ônibus ofereceram o mesmo valor no certame.
– vendas de atestados de capacidade técnicas falsificados
– certidões negativas adulteradas
– conluio entre a Prefeitura e o banco que financiou os micro-ônibus aos permissionários
– depósito em dinheiro na conta do presidente de uma das cooperativas
– contratos de gaveta para a compra de linhas de transporte
– pagamentos a advogados contrários à licitação para que abandonassem suas causas
– permissionários recebendo sem contratos assinados
– sociedade entre o secretário e um presidente de cooperativa que é suplente de vereador pelo PT
– esquema com as empresas de ônibus
– fraude no sistema alimentador pela operadora
Leia mais: