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Sylvinho fala em recuperar veteranos: Pronto para a massa que é o Corinthians

Sylvinho foi apresentado nesta terça-feira como técnico do Corinthians. Ele chegou de Portugal pela manhã, desembarcou no Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos (SP), e foi direto para o CT Joaquim Grava, na zona leste de São Paulo. Na coletiva, falou sobre seu estilo "pilhado" de trabalhar. Disse também que sabe que não contará com reforços e que o objetivo inicial será o de recuperar jogadores, tanto os mais experientes quanto os jovens. "Estou pronto para essa massa que é o Corinthians".

O novo treinador assinou contrato até o final de 2022 e chega com o auxiliar Doriva. Completam a comissão técnica o analista Fernando Lázaro e o preparador físico Flávio de Oliveira. Os dois últimos já estavam trabalhando no Corinthians.

Sylvinho não vai estrear na partida desta quarta-feira, em casa, contra o River Plate, do Paraguai, pela Copa Sul-Americana. Ele acompanhará o jogo das tribunas da Neo Química Arena, em São Paulo. O primeiro jogo no banco de reservas deverá ser no domingo contra o Atlético Goianiense, também como mandante, pela rodada inaugural do Campeonato Brasileiro.

<b>Como foi o acordo?</b>
Não precisei consultar ninguém. Vim porque era hora. Tenho monitorado o clube há tempo. Conheço o clube há muitos anos. Foram três minutos de boa conversa com o presidente (Duílio Monteiro Alves). Trago, além da experiência como técnico do Lyon, a construção de uma Copa do Mundo e Inter de Milão (foi auxiliar técnico do Tite no Mundial de 2018 e auxiliar de Roberto Mancini no clube italiano). Nessa casa tive a oportunidade de trabalhar com o Tite e o Mano, dois grandes treinadores. Trago tempo, conteúdo e isso me deixa satisfeito. Estuo muito feliz de estar aqui nesta casa.

<b>Reforços?</b>
O clube já tem muito claro, assim como eu, que não tem muitas vindas de reforços. Vejo o cenário de atletas com boas condições. Tudo pode ser potencializado e melhorado. Estamos vivendo uma nova etapa. O Corinthians está acostumado com títulos, ganhando finais. Mas a etapa é de construir, de paciência, de juntar forças. Com raça e dedicação é o mínimo que podemos dar.

<b>Pilhado</b>
É um jeito meu, uma característica. Não gostaria de ser assim, mas sou. Meus pés aqui embaixo se mexem. Ser pilhado no futebol é não perder tempo. Futebol exige entrega, nível de concentração alto. Estar atento a tudo. Não perco tempo. É meu ritmo, minha forma de ser. Na vida social muitas vezes passo um pouco do ponto, é muita energia.

<b>Esquema tático preferido</b>
Fui criado na linha de quatro, treinei muito o sistema de quatro, há sete oito anos como auxiliar. Domino também outros sistemas. O importante é entender na parte técnica o que potencializa o time e os jogadores. Não trabalho com muita variação de sistema. O atleta treinado tem percepções. A variação causa distâncias diferentes e pode gerar atrasos nas ações dos atletas. Gosto da linha de quatro, mas não está fora de cogitação trabalhar com linha de três em algumas situações.

<b>Foco na recuperação de atletas</b>
Recuperar atletas mais experientes sim. Trabalho com todos os atletas. Todos nós trabalhamos para eles. Os jovens também. Com os jovens o importante é acelerar etapas. Entendemos a demanda do futebol. O jovem tem absorção rápida. Eles precisam se sentir cada vez melhor, pouco a pouco. Nosso papel como treinador é trabalhar com e para os atletas. Não me conformo com atleta fora do grupo. Temos como responsabilidade buscar os atletas.

<b>Os tempos como jogador do Corinthians</b>
Subi com 20 anos de idade, não era muito normal subir com essa idade. Naquele momento o time estava nas mãos do Eduardo Amorim. Tive uma expulsão ou outra mais tonta por causa da falta de experiência. A camisa é pesada, de responsabilidade. O Eduardo teve muito cuidado comigo. Ele dizia, você vai jogar quarta-feira de novo, então calma. Queremos os jovens promissores, no seu tempo. Com relação a títulos a gente sempre aprende. O Brasileiro de 1998 era um time muito forte tecnicamente e fisicamente. Foi um dos grandes times. Mas o título de 1995 me remete a situações que é a cara do clube. O Grêmio e o Palmeiras tinham atletas mais fortes e formados. Éramos um time, muito bem liderado e isso que valeu.

<b>Problema financeiro do clube</b>
Não foi uma barreira para mim. Somos resultados das nossas decisões. Sempre pensei muito antes de tomar decisões. Com o Corinthians era questão de tempo. Sou fruto do Terrão. Gosto de estudar, mas futebol não é só isso. Tem componentes sérios de gestão, de time. Tive ótimas comissões técnicas e fico satisfeito com o conteúdo que tenho.

<b>O que é inegociável?</b>
Perda de tempo, não dá. Nível baixo de concentração, não dá também. Isso aqui é trabalho, dedicação. Somos exemplos para uma sociedade. Representamos uma nação. Nível de concentração baixo é quase inegociável. Respeitar a geração, a idade, isso sim. Tem tempo para tudo.

<b>O estilo Sylvinho como técnico</b>
Sabemos que o tempo corre e não podemos parar. Esse time vai lutar, disputar e é isso que nós queremos e exigimos. Essa característica que não pode faltar. Pensamos na construção no dia. No que temos que trabalhar e melhorar. Vamos trabalhar, fazer as coisas bem feita. Não pensamos no dia seguinte.

<b>O que fez nesses últimos anos?</b>
Não fiquei sem trabalhar nesse período. Gosto de conversar com outros treinadores. A gente não para. Gosto de ver jogos, acompanhar a construção de carreira dos mais jovens. É óbvio que não tem o campo e isso dificulta. Tenho uma vantagem grande que descobri. Quando estou fora do trabalho sei ter vida social, ficar com minha esposa. Não sou murmurador. Agora aqui é trabalho.

<b>Conversa com Vagner Mancini</b>
Não conversei por telefone com o Vagner. Falamos por mensagem. Ele é muito honrado, de índole incrível, grande treinador e tem sua contribuição na casa. Entendemos o momento do clube, sabemos que dificilmente vai haver contratação. Está nas mãos dos diretores. Reconhecemos o grupo e entendemos que é um grupo bom.

<b>Sem tempo para trabalhar</b>
O tempo é escasso. Dá para se trabalhar. Assim eu vi, assim fui treinado também. A gente começa a otimizar tempo, ganhar tempo para poder ir aperfeiçoando. As imagens falam bastante. Dentro de um grupo, passar uma imagem de sete minutos, aquilo é treino e vai ser levado para o campo, o jogador tem que entender.

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