A percepção de uma postura dovish do Banco Central provocou uma forte reação de baixa na curva de juros nesta quarta-feira, 22, levando a quedas consistentes no trecho curto. Na avaliação de agentes do mercado, ao ressaltar que a política monetária segue eficaz e que consegue enxergar o cenário com mais clareza, o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, abre as portas para uma redução consistente da Selic na próxima reunião. A perspectiva de inflação baixa e recessão econômica também influenciou no recuo das taxas.
Ao fim da sessão regular, a taxa do Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 estava em 2,650%, de 2,830% no ajuste de segunda-feira, renovando mínima histórica. O contrato para janeiro de 2022 passou de 3,370% para 3,190%. O janeiro 2025 caiu de 5,960% para 5,860%. E o janeiro 2027 foi de 6,830% para 6,800%.
A precificação de um corte de 0,75 ponto porcentual na reunião de maio chegou a 85% no fim da sessão, com 15% em aposta de redução de 0,50 pp, nas contas do economista-chefe do Haitong Banco de Investimento, Flávio Serrano. Para junho, 85% das apostas são de baixa de 0,25 pp e 15%, de 0,50 pp.
O principal motor das quedas de hoje foram as declarações de Campos Neto no fim da tarde de segunda-feira. Naquele dia, ao JPMorgan, ele já teria sido dovish, assim como o diretor de Política Econômica, Fábio Kanczuk, ao Itaú BBA. Ao Estadão Live Talks, o presidente da autarquia afirmou que "as condições de política monetária mudaram muito com o coronavírus". "O cenário estava nebuloso, entendemos agora que conseguimos enxergar com mais clareza", disse. Ele declarou ainda que "em nenhum momento dissemos que a política monetária não era efetiva".
"Após a ata do último Copom, havia ficado no ar a sensação de que o BC tinha medo de que o corte de juros poderia se tornar improdutivo. As últimas sinalizações de Campos Neto, no entanto, vão no sentido oposto. Ele tem apontado no sentido do corte", disse o analista de Mercados da Harrison Investimentos, Renan Sujii.