Os juros futuros de longo prazo fecharam a sessão em baixa e os curtos, perto da estabilidade. A curva manteve à tarde o movimento de desinclinação desencadeado pelos eventos da manhã – ata do Copom hawkish e resultado fraco dos serviços em outubro -, mas com taxas longas reduzindo o ímpeto de queda e as curtas praticamente zerando o recuo. A postura defensiva veio principalmente do exterior, em meio ao aumento da cautela com a reunião do Federal Reserve amanhã. Os ajustes à agenda econômica da terça-feira – que ainda teve a Petrobras anunciando redução no preço da gasolina – reforçaram as apostas para a Selic na curva, com o mercado voltando a enxergar espaço para alta de mais de 150 pontos-base no Copom de fevereiro.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou a sessão regular em 11,47% e a estendida em 11,49%, de 11,494% ontem, e a do DI para janeiro de 2025 passou de 10,592% para 10,46% (regular e estendida). A taxa do DI para janeiro de 2027 encerrou em 10,36% (regular) e 10,37% (estendida), de 10,491%.
As taxas longas, que pela manhã chegaram a recuar 30 pontos-base, fecharam a etapa regular com alívio de pouco mais de 10 pontos, enquanto as curtas voltaram para os ajustes, mesmo com o Copom reiterando na ata o tom duro do comunicado da semana passada. No documento, os diretores afirmam terem concluído "que o ciclo de aperto monetário deverá ser mais contracionista do que o utilizado no cenário básico por todo o horizonte relevante" diante da desancoragem das expectativas de inflação em relação à metas.
Como destaca a Tendências Consultoria, a frase fornece uma referência da visão atual do BC quanto à trajetória futura da Selic necessária para conduzir a inflação de volta às metas. À época da reunião, a Selic na pesquisa Focus, utilizada pelo BC nos modelos, era de 11,75% no pico de 2022, 11,25% ao final de 2022 e 8,0% ao término de 2023. "A avaliação da autoridade monetária é que as taxas praticadas deverão ser superiores a estas", afirma o economista Silvio Campos Neto, para quem o Banco Central necessita manter um discurso mais duro, a fim de estancar a deterioração das expectativas, principalmente para os horizontes mais longos.
Mas a consultoria manteve sua estimativa de que a taxa chegará a 11,5% e assim ficará até o fim de 2022, em função da perspectiva de melhora do quadro inflacionário e da atividade enfraquecida. Duas notícias desta terça-feira vão ao encontro dessa percepção. A Petrobras anunciou redução no preço da gasolina nas refinarias em 3% a partir de amanhã, com alívio estimado pelos economistas em até 0,08 ponto porcentual no IPCA entre dezembro e janeiro.
Além disso, o IBGE informou que o volume de serviços prestados em outubro caiu 1,2% na margem, além do que indicava a expectativa mais pessimista da pesquisa do Projeções Broadcast (-1,1%). O indicador vem na sequência de números muito ruins da indústria e do varejo, reforçando o ceticismo com a atividade no último trimestre do ano. "O dado foi muito impactante em termos de PIB. Apesar do tom mais firme da ata e comunicado do Copom contra a inflação, os dados de atividade apontam chance do País ir para a recessão em 2022", afirma o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, que manteve sua previsão de Selic terminal de 11,25% até março.
Nesse contexto, ainda que a ata tenha sugerido que a Selic de 11,75% pode não ser suficiente para a convergência da inflação, pesquisa do Projeções Broadcast com 32 instituições mostra que a mediana das previsões para a taxa básica segue em 11,75%. Na curva de juros, porém, de acordo com Rostagno, a precificação para o Copom de fevereiro é de 157 pontos-base, o que significa 72% de probabilidade de elevação de 150 pontos-base e 28% de chance de aperto de 175 pontos.