Taxas sobem com risco fiscal e cautela antes do feriado do carnaval

Os juros fecharam em alta por toda a curva, refletindo as incertezas com relação às contas públicas e cautela antes do feriado de carnaval, que fechará o mercado na segunda e na terça. Os que mais subiram foram os do miolo da curva, mesmo num dia em que o dólar esteve relativamente bem comportado. O imbróglio em torno do auxílio emergencial se mantém como principal fator de risco para os ativos. Sinais de que o valor e a duração do pagamento do benefício em 2021 serão maiores do que o esperado pesaram sobre os negócios, enquanto também há dúvidas sobre a viabilidade política das contrapartidas fiscais embutidas nas duas Propostas de Emenda à Constituição (PEC) a serem encaminhadas ao Legislativo.

A agenda de indicadores afetou as taxas curtas pela manhã, com o IGP-10 e o IBC-Br mais fortes, mas sem alterar a aposta majoritária de aumento de 0,25 ponto porcentual da Selic no Copom de março. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 encerrou a regular com taxa de 3,360% e a estendida em 3,355%, de 3,347% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 terminou em 6,52% (regular e estendida), de 6,435% ontem no ajuste. O DI para janeiro de 2027 fechou com taxa de 7,19% (regular) e 7,20% (estendida), de 7,124%.

O desenho reflete basicamente a angústia dos agentes ao longo da semana em relação ao auxílio. Conforme a repórter especial Adriana Fernandes, governo e lideranças do Congresso negociam valor de R$ 250 em quatro parcelas, com custo total de cerca de R$ 30 bilhões, entre março e junho. O mercado trabalhava com a ideia de um valor menor, de R$ 200, e por três meses apenas.

Ainda, a concessão do auxílio terá que ser dada por meio da PEC de orçamento de guerra, semelhante mas não igual à aprovada em 2020, que permitiu que o governo ampliasse os gastos no combate à pandemia livre das "amarras" das regras fiscais. Agora, as medidas de contrapartidas de corte de despesas e de renúncias fiscais serão divididas em duas etapas. A "PEC de guerra" conterá uma versão mais compacta de medidas fiscais com base no texto do pacto federativo. A segunda PEC conterá a outra parte das medidas mais duras de corte de despesas, com o objetivo de sustentar a sobrevivência do teto de gastos até 2026.

A informação é de que técnicos da equipe econômica e do Congresso trabalharão durante o feriado no aprimoramento das medidas. "Novidades são aguardadas nos próximos dias, quando os mercados estarão fechados para o feriado de carnaval. Mesmo que possa surgir um bom desenho destas medidas, o tamanho do desafio fiscal e político não autoriza otimismo", disse o economista Silvio Campos Neto, da Tendências.

A agenda do dia ajudou a pressionar os curtos, quando saíram o IGP-10 de fevereiro, com alta de 2,97%, no teto das estimativas do mercado, e o IBC-Br de dezembro, de 0,64%, acima da mediana de 0,30% e perto do teto do intervalo (0,70%). "O IBC-Br amenizou o impacto negativo para a atividade trazido pelo varejo", disse o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.

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