Mundo das Palavras

Telecatch eleitoral

Há duas constatações, consideradas como verdades banais, por quem se interessa pela importância dos debates nas emissoras de televisão dentro dos planejamentos de campanhas de candidatos a cargos eletivos. 
 
A primeira: um candidato no clima de tensão habitual destes momentos pode se mostrar incisivo nas suas argumentações contra o seu oponente. Mas não deve deixar o telespectador perceber que perde o equilíbrio emocional quando o outro revida. Afinal, se chegar ao cargo almejado por ele terá de demonstrar que dispõe de condições psicológicas para liderar sua comunidade com firmeza e serenidade em situações adversas, como enchentes, abalos sísmicos, crises econômicas e grandes tragédias. 
 
Há um caso exemplar sobre a importância desta verdade banal, sempre citado  na História do Marketing Eleitoral. Ocorreu, em 1960, nos Estados Unidos, quando a televisão ainda era uma novidade em muitas partes do mundo. John Kennedy disputava a presidência daquele país com Richard Nixon. Nas fotos de arquivo do Google, hoje pode ser visto, através da internet, o estado de espírito com o qual cada um deles se manteve naquele debate. Algumas destas imagens, mais tarde, foram considerados como decisivas para a vitória de Kennedy sobre Nixon, pelos especialistas de Marketing da época. Nelas, Kennedy aparece diante das câmeras como se tivesse acabado de sair de um banho refrescante. Enquanto Nixon mostra um rosto suado que enxuga nervosamente a todo instante com seu lenço.
 
A segunda verdade muito conhecida foi lembrada há poucos dias numa entrevista à Agência Globo dada pelo cientista político Cláudio Gonçalves Couto, da PUC-SP: nenhum candidato conquista voto num debate quando exagera nas acusações contra seu adversário, a ponto de torná-las mais relevantes nas suas manifestações do que a apresentação de propostas para as soluções dos problemas que atormentam os eleitores. 
 
O comentário de Cláudio se relacionou ao segundo debate travado por Dilma Rousseff e Aécio Neves, transmitido pelo SBT. Durante este debate, observaram outros especialistas entrevistados pela agencia de notícias, tópicos como homofobia, aborto e maioridade penal, abordados durante o primeiro turno desta eleição presidencial, até por candidatados chamados de nanicos, cederam lugar aos ataques pessoais e às tentativas de “desconstrução moral” do adversário. “O objetivo dessa estratégia é rebaixar o outro. Não se trata de ganhar um voto para si, mas de fazer o outro perder voto”, analisou Wagner Mourão, cientista político da Unicamp. Seu resultado o MSN Notícias anunciou, já no título desta matéria da Agência Globo, quando a postou no seu site: “Especialistas dizem que acusações em campanha não dão votos”.
 
O que dirão as urnas no dia 26 – o da votação no segundo turno desta eleição? Só então poderemos saber que efeitos o nervosismo e das tentativas de rebaixamento moral tiveram sobre a escolha firmadas pelos eleitores entre Dilma e Aécio.     
 

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