Estadão

TikTok e pandemia impulsionam onda de mulheres de patins em SP

Cair faz parte até conseguir se sustentar sobre as quatro rodinhas – e depois de conseguir também. Para dançar em cima dos patins, somam-se tombos, suor e risadas. Quem associa patinação só a meninos velozes em manobras radicais não conhece a nova geração de mulheres paulistanas que tirou a poeira dos velhos pares guardados no armário ou decidiu se aventurar pela primeira vez.

Elas dão cara nova ao movimento roller dance, febre dos anos 1980 nos Estados Unidos. As restrições ao lazer na pandemia e o sucesso de vídeos de danças sobre rodas nas redes sociais impulsionam a nova-velha moda. Os patins preferidos para coreografias são os do modelo quad, que parecem botas retrô com duas rodinhas na frente e duas atrás.

"Comecei a andar agora, com esse quad. Venho aqui para dançar", contava a gerente de relacionamento Sabrina Dias, de 40 anos, em meio a uma pista de patins com luzes e música no Vale do Anhangabaú, centro de São Paulo. Em uma noite fria de sexta-feira, o DJ engatou Billie Jean, de Michael Jackson, a euforia foi geral sob o Viaduto do Chá.

Palmas, pernas que se cruzam, uma profusão de rodinhas: todos parecem saber como se divertir – até quem ainda não domina as coreografias. Para Sabrina, a boa surpresa foi encontrar mulheres acima dos 40. "Vamos aos poucos fazendo amizade e essas pessoas dão um toque aqui, outro ali. Não quero parar", diz ela, que ainda vê mais vídeos do que publica, mas já planeja exibir seus progressos no esporte.

O Vale, reaberto em dezembro, é um dos polos de patins – a reforma tornou o piso liso e propício para o esporte. Toda sexta à noite, parte da área é fechada com gradis só para a atividade. Instrutoras como Vitória Albanese, de 24 anos, e Vic Arantes, de 26, ajudam quem arrisca os primeiros passos ou pulinhos. Aparecem crianças, adultos enferrujados e até idosos. Fazer a manobra crazy legs, em que as pernas se alternam sem o patinador sair do lugar, é um troféu.

Publicações virais no Instagram e no TikTok inspiram. No fim da balada, Vitória puxa o trenzinho de patinadores e o DJ aumenta o som. Vem uma menina que não tem nem 5 anos, com patins maiores do que as pernas. "Na pandemia, com academias e baladas fechadas, patins e bicicleta vieram com tudo", diz a customer service Juliana Jerônimo, de 29 anos, que formou o coletivo Pakitas. Juntas, as "rainhas do patins", como são conhecidas, vão a espaços como o Anhangabaú, praças e parques.

Além da diversão, elas passam a mensagem de que todo lugar pode (e deve) ser ocupado pelas mulheres. "É bom se sentir livre à noite, em São Paulo, no centro, poder expressar sua parte artística em um lugar que é público", diz Juliana.

<b>NA PISTA</b>

Espaços públicos concentram mais gente, mas rinques de patinação também notam a procura. "Antes, quem buscava patins quad eram crianças ou pessoas muito mais velhas, que tinham patinado nos anos 1970 e 1980. Com os vídeos da (modelo senegalesa) Oumi Janta, o público mais jovem, de mulheres, foi atrás para fazer igual", diz Luiz Morcegão, dono da Roller Jam, rinque com duas unidades em São Paulo: Moema (zona sul) e Mooca (leste).

O da Mooca, diz, teve aumento de cerca de 20% do público em relação a antes da pandemia. Em Moema, o movimento cresce a cada fim de semana – puxado pela turma das danças. Há aulas específicas para aprender passos nos patins.

De olho no boom de patinação, outro espaço foi aberto no fim de 2021 na Liberdade (região central). O nome já indica o foco: Roller Dance. Mulheres marcam presença, mas não só. "Vão muitos casais de namorados que arriscam uma dancinha", diz Luciano Loiola, administrador da Roller Dance.

Em clima de discoteca, uma festa sobre rodas na Roller Dance retomou clássicos de Cyndi Lauper, Madonna e Michael Jackson, mas Loiola garante que a playlist também traz sucessos contemporâneos e frequentadores podem pedir hits. "Toca de tudo." A demanda fez a casa abrir turmas pela manhã e à tarde.

Funciona como um hobby com exercício físico. "Todos os instintos de atenção, desenvolvimento motor, são bem aguçados", explica Guilherme Montan, diretor executivo da Pro 360 Patinação, centro de treinamento em Santo André (SP). Quem patina também cita benefícios emocionais. "Estava triste, senti aquela dose de endorfina e fiquei viciada", diz a tosadora Lucienne Alcântara, de 25 anos, que começou a patinar na pandemia, após uma decepção amorosa.

No Parque Villa-Lobos (zona oeste), a tendência é perceptível. "Muita gente fala que quer aprender para dançar", diz Eli Paulino, de 55 anos, um dos fundadores do Sampa Rollers, projeto de apoio a iniciantes. "Mulheres já casadas, aposentadas, querem recuperar o tempo perdido, fazer o que têm vontade e viver a vida independentemente de rótulo."

Lá, além do modelo retrô, é comum o inline (rodas dispostas em linha). Cones são postos no chão, a uma mesma distância: o desafio é passar por eles, em curvas. Se o ziguezague dá certo, vídeos logo chegam às redes – e incentivam mais gente a calçar botas rolantes e sair da tela para as ruas.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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