Economia

Tombini vê País preparado para aperto

O Brasil está preparado para enfrentar uma piora nas finanças globais e dispõe para isso de US$ 370 bilhões, disse ontem numa entrevista o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, comentando uma advertência repetida nos últimos dias por dirigentes do Fundo Monetário Internacional (FMI).

O alerta foi incorporado no documento emitido ontem pelo Comitê Monetário e Financeiro do Fundo, o órgão político mais importante da instituição. A recuperação mundial continua, mas ainda modesta e desigual, e novos obstáculos podem travar o crescimento, adverte o comunicado.

Segundo o texto, o riscos são especialmente importantes para as economias emergentes e em desenvolvimento: mercados financeiros mais apertados, diminuição dos fluxos de capitais, pressões cambiais e preços menores de produtos básicos.

Muitas dessas economias estão mais capacitadas para enfrentar esses desafios, porque suas políticas econômicas melhoraram, seus fundamentos são mais sólidos e amortecedores podem ser usados para atenuar os choques.

Pelos critérios do FMI, no entanto, reservas internacionais são os únicos amortecedores disponíveis para o Brasil. Sem nomear países, o comunicado chama a atenção para a vantagem de países com maior espaço de manobra nas contas públicas. Os governos desses países poderão enfrentar a piora das condições internacionais sem aperto de gastos. Para os demais, a recomendação é cuidar da saúde das finanças públicas e buscar, ao mesmo tempo, a eficiência nos programas sociais e nos investimentos em infraestrutura.

O contraste entre o Brasil e os países com melhores condições fiscais – Chile, Colômbia e Peru são exemplos na América do Sul – foi apontado várias vezes durante a semana, tanto em relatórios quanto em declarações de dirigentes do Fundo Monetário Internacional.
Sem condições de contestar essa avaliação, as autoridades brasileiras limitaram-se a repetir as promessas de consertar as finanças do governo.

Estratégia. Além de arrumar as contas, o governo pretende passar a limpo a despesa, para gastar melhor e com mais eficiência, afirmou o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, numa declaração preparada para a reunião do comitê político do Fundo Monetário Internacional. Até o fim do ano devem sair, acrescentou, os resultados iniciais da revisão.

A mesma promessa, cuidar da qualidade do gasto e da administração, foi feita pela presidente Dilma Rousseff no começo de seu primeiro mandato, em 2011, mas esse detalhe ficou fora do pronunciamento do ministro, ontem. A grande novidade, se houver alguma, será o cumprimento da promessa.

Sem mencionar a recessão, o ministro citou a expectativa de investimentos de US$ 50 bilhões em rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. Esse programa, explicou, deve ser parte dos esforços para aumentar o potencial de crescimento. A política deve incluir também a melhora do ambiente de negócios, para reduzir a insegurança em relação a regras e tornar o País mais atrativo.

Só um resultado concreto foi incluído na declaração: a melhora das contas externas. Faltou explicar a melhora, atribuível em parte à alta do dólar e em parte à recessão. O dólar barateou as exportações e encareceu as importações e a recessão derrubou a demanda de bens estrangeiros, tanto de consumo quanto de produção, como máquinas, equipamentos e matérias-primas.

Sombras. Sete anos depois do estouro da bolha financeira e do início da recessão, o panorama apresentado nas análises do Fundo é novamente cheio de sombras. A maior parte das economias voltou a crescer, mas as condições de comércio têm piorado para os exportadores de matérias-primas, em parte por causa da reforma e do menor crescimento da China.
Além disso, o fortalecimento da economia americana – basicamente uma boa notícia – abre caminho para a normalização da política monetária nos Estados Unidos. Isso deve resultar em breve em juros mais altos e essa perspectiva já tem afetado os mercados financeiro e de câmbio.

A perda de impulso da economia mundial se reflete nos padrões de intercâmbio. A Organização Mundial do Comércio (OMC) reduziu de 3,3% para 2,8% a projeção de crescimento das trocas em 2015 e de 4,0% para 3,9% a estimativa para 2016. A piora das perspectivas foi comentada pelo vice-diretor-geral da OMC, o chinês Yi Xioazhun, em declaração preparada para a reunião do Comitê Monetário e Financeiro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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