O conglomerado nacional Ultra, dono da rede de postos de combustíveis Ipiranga, corre contra o relógio para conseguir a aprovação, mesmo com pesadas restrições, da compra da Liquigás, que pertence à Petrobrás, pela Ultragaz, divisão de gás de cozinha da companhia. O caso, que deve ser julgado no dia 28, é importante tanto para a estatal – que está em processo de desinvestimentos de ativos não estratégicos – quanto para o Ultra, que busca se isolar na liderança em gás com a transação. Em agosto passado, o Ultra teve um importante negócio barrado pelo órgão antitruste: a compra da rede de postos Ale pela Ipiranga.
O acordo entre as distribuidoras de gás é considerado uma operação complexa, por causa da alta concentração de mercado em algumas regiões do País. Por isso, o grupo Ultra concordou em assinar uma cláusula em que a Petrobrás receberia R$ 280 milhões, ou 10% do valor anunciado do negócio, de R$ 2,8 bilhões, caso a operação seja barrada pelo Cade. A aposta do Ultra é alta, segundo fontes de mercado, uma vez que tradicionalmente essa taxa de insucesso, ou break-up fee, varia de 3% a 5% do valor da transação.
Anunciado em novembro de 2016, o processo de aquisição da Liquigás pela Ultragaz foi bastante competitivo, atraindo os principais concorrentes brasileiros, como a holandesa Supergasbrás (SHV), a Nacional Gás, do grupo Edson Queiroz (ramo da família Jereissati), e a Copagaz, do empresário Ueze Zahran, além de investidores estrangeiros, como o turco Aygaz.
Ativo cobiçado
Estado apurou que os principais concorrentes na disputa pela Liquigás estão acompanhando de perto os próximos passos do Cade e têm interesse em fazer uma oferta pelo negócio, caso a operação seja barrada. O valor, contudo, deverá ficar abaixo do ofertado pelo Ultra, segundo pessoas a par do assunto.
Pelo menos duas rivais, a SHV e a Nacional Gás, enfrentariam os mesmos problemas de concentração da Ultragaz. Fontes ligadas a essas empresas confirmaram interesse e disseram ter “alternativas” para evitar o veto do Cade. A Copagaz e a Aygaz também estão de olho no negócio, caso seja barrado. Procuradas pela reportagem, SHV e Copagaz não comentam. Nacional Gás e Aygaz não retornaram os pedidos de entrevista.
Na visão do advogado Ricardo Gailard, do escritório Cescon, Barrieu, as chances de o negócio ser aprovado pelo Cade são mínimas por causa do domínio de Liquigás e Ultragaz. Ele acompanha o caso como parte interessada, uma vez que representa a Copagaz, uma das derrotadas na briga pela Liquigás.
Negociações. No entanto, o grupo Ultra, um dos maiores conglomerados do País, que faturou R$ 75,6 bilhões em 2016, não jogou a toalha, segundo fontes. A Petrobrás também está defendendo em Brasília a aprovação do negócio. No dia 31 de janeiro, o diretor financeiro da estatal, Ivan Monteiro, esteve no Cade para discutir o assunto. Procurados, Ultra e Petrobrás também não comentam.
Várias alternativas foram estudadas, conforme informou o Estadão/Broadcast em janeiro. Entre elas estão o compartilhamento de bases de operação e a venda de marcas secundárias, como Tropigás e Novogás.
Outra opção aventada é vender a marca Liquigás. No entanto, uma regra da Agência Nacional do Petróleo (ANP) impede que uma empresa use o botijão de outra concorrente – o que pode inviabilizar a venda de marcas, pois isso exigiria a recompra de milhões de botijões pelo País. Seria caro e demorado entregar os botijões com a grafia da empresa vendida para quem comprar o negócio. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.