Cidades

Um novo rumo para os jovens

Nossos jovens clamam por ajuda. Vivem uma situação de angústia. Fizeram enorme sacrifício, ou seus pais, para pagar uma faculdade que nem sempre ofereceu um ensino de qualidade. Saíram de lá com um diploma.

E não conseguem emprego. No máximo uma colocação que em geral pouco tem a ver com sua especialidade e com uma remuneração que não lhes permite definir um projeto de vida.


O quadro é sombrio e exige respostas urgentes por parte das autoridades competentes e dos educadores. É um processo que se inicia no ensino fundamental, perpassa o ensino médio e se consolida, para o bem ou para o mal, no ensino superior. Poucas universidades estão hoje preocupadas em adequar seus cursos aos novos tempos. Nas públicas, faltam definições. Nas privadas, com as devidas exceções, prevalece o mercantilismo. O negócio é atrair alunos. Pouco importa se eles estão em um curso adequado ou se sairão de lá preparados para enfrentar o mercado de trabalho.


A impressão é a de que não há, no Brasil, uma preocupação em formatar cursos adequados às novas exigências das empresas. Ou, então, nos movemos com a agilidade de elefantes e na velocidade das tartarugas. Sobram milhares de profissionais em algumas áreas, faltam milhares em outras. Na hora de o jovem fazer sua escolha, falta orientação sobre a realidade que o espera.


É impressionante, por exemplo, que no último vestibular da Fuvest, um dos cursos mais concorridos tenha sido o de Jornalismo. Ora, todos sabem que é uma profissão importante, mas com oportunidades cada vez mais restritas, sem levar em conta que o ato de escrever não se aprende em quatro anos – muito menos a cultura exigida.


Em outra ponta, as empresas disputam, por exemplo, profissionais egressos de cursos em áreas de tecnologia e administração. Estima-se que somente em TI, a demanda seja de mais de 200 mil profissionais até 2010. Haverá uma revolução no setor de telecomunicações com o advento do celular de terceira geração, envolvendo infindáveis maneiras de as empresas se relacionarem com seus clientes. Estarão na dianteira as empresas que contarem com profissionais capazes de pensar soluções, e não necessariamente egressos de universidades. É reconhecida a excelência das qualificações oferecidas pelo Senai e Senac e pelos cursos de empreendedorismo do Sebrae.


O descasamento entre as necessidades do mercado e o ensino oferecido é um fenômeno que se acentuou a partir da década de 1990, resultado da velocidade das transformações despejadas em todo o mundo pelos países que souberam investir em tecnologia. Num processo implacável, a tecnologia apressou a globalização, revolucionou as relações comerciais e multiplicou as demandas.


É nesse cenário que a educação fica a dever, afetando toda uma geração de jovens. Eles se sentem despreparados para responder às necessidades das empresas e vêem distante o sonho de uma boa remuneração. É claro que há exceções, mas aqui estamos analisando a angústia da maioria.


Esses jovens poderiam ser batizados de “milrealistas”, já que, raramente, seus ganhos vão muito além dos R$ 1 mil. Aliás, não é um fenômeno exclusivamente brasileiro ou de países emergentes (imagine-se a situação dos subdesenvolvidos). Na Europa, já são largamente conhecidos os “mileuristas”, cujos ganhos ficam em torno dos mil euros, insuficientes para realizar qualquer tipo de sonho de consumo. Como os nossos jovens, são formados, mas faltam oportunidades de trabalho em suas áreas de especialização.


Fica para todos o desafio: mudar o sistema educacional, adaptá-lo aos novos tempos. Os jovens precisam voltar a sonhar.


*Milton Dallari é diretor administrativo e financeiro do Sebrae-SP e presidente da Associação dos Aposentados da Fundação Cesp.

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