Em meio à crise que derrubou até líderes do setor, uma conservadora construtora do interior do Paraná aposta no início da recuperação do mercado. Com sede em Londrina, a Plaenge, única incorporadora brasileira a atuar no exterior, projeta lançar até 21 empreendimentos neste ano – contra 13 em 2016 – e se prepara para chegar a Santiago, após oito anos no mercado chileno.
Nos últimos dois anos, no auge da crise brasileira, o Chile foi o reduto da empresa, concentrando quase 30% dos lançamentos. Em 2016, o país foi responsável por 15% do faturamento de R$ 830 milhões da Plaenge, mas a intenção é que chegue a 25% em cinco anos.
Ao contrário da brasileira, a operação chilena da companhia não sofre com os distratos (desistência do negócio pelos compradores), que vêm devastando o setor nacional. “Lá, eles não são comuns”, conta Alexandre Fabian, sócio-diretor.
No Brasil, a própria Plaenge viu os distratos dobrarem durante a crise e atingirem 15% dos contratos. No Chile, porém, onde o sistema de financiamento é mais restrito, sendo que o banco pré-aprova o crédito antes de o consumidor comprar o imóvel, são inferiores a 3%. “Aqui, o distrato é o destruidor de toda a cadeia de financiamento. Em outros países, a lei não o permite”, destaca o presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Luiz Antonio França.
Sem depressão econômica nem distratos, o Chile garantiu, nos últimos anos, um bom desempenho para a Plaenge, que acabou avançando pelo país. Agora, após trabalhar em seis cidades localizadas no sul, a construtora vai entrar em Santiago. Por ser o maior mercado chileno, a capital era uma meta e, para chegar lá, a incorporadora atuou do mesmo modo que faz no Brasil – enviando um executivo para viver na cidade e conhecer o mercado local.
Com lançamento previsto para 2018, o primeiro projeto em Santiago será um condomínio com dez torres. Assim como ocorrerá no Brasil neste ano, os prédios serão construídos conforme forem vendidos.
Mercado nacional. A Plaenge chegou a ser a maior construtora de capital fechado do País por três anos consecutivos no início da década, mas acabou recuando no ranking durante a recessão. Passou de um portfólio 1,9 milhão de metros quadrados em construção, volume registrado em 2011, para 1,2 milhão de metros quadrados em 2015 – dado mais atualizado da ITC (Inteligência Empresarial da Construção).
A desaceleração, porém, não foi à toa. Segundo Fabian, frear diante do primeiro sinal de crise foi uma decisão estratégica. “Temos uma equipe própria de vendas e conseguimos sentir a temperatura do mercado rapidamente”, conta. Esse termômetro fez a companhia reduzir os lançamentos e poupar. “Poucos lançamentos garantem um acerto maior, com mais qualidade”, diz Carlos Bueno, da gerenciadora de obras Tallento.
Com dinheiro em caixa, agora a Plaenge aproveita para comprar terrenos até 40% mais baratos que nos tempos áureos do setor. A retomada nos lançamentos neste ano vem sendo planejada há mais de seis meses. Fabian diz que sentiu a confiança do consumidor começar a aumentar com a conclusão do impeachment, em agosto. Também favorece o fato de a empresa atuar em cidades ligadas ao agronegócio, que deve ter uma safra recorde em 2017 e reverter a retração do ano passado.
Hoje, a empresa está em sete cidades brasileiras em Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Com algumas delas saturadas, a construtora analisa uma cidade em São Paulo e outra no Rio Grande do Sul para se expandir também em terreno nacional. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.