A empresa de loteamentos Urbplan, do Carlyle Group, chamou na semana passada um grupo de credores para tentar renegociar o prazo de pagamento de R$ 500 milhões em dívidas, sob a ameaça de entrar em recuperação judicial. A empresa quer de 10 a 12 anos para pagamento de seu passivo e ainda liberar caixa, hoje comprometido com os credores, para tocar as operações.
Na reunião, os advogados da empresa do escritório E.Munhoz deixaram claro que o Carlyle não irá mais aportar recursos na companhia além daqueles necessários para finalizar obras de loteamento ainda em construção.
De acordo com as projeções apresentadas aos credores, a Urbplan está em sérias dificuldades financeiras e prevê um déficit de R$ 217 milhões entre suas receitas previstas para o ano e seus custos de operação. Do jeito que está, segundo a planilha apresentada, a conta só começaria a ficar no azul a partir de 2021.
A empresa ainda possui uma carteira de lotes a ser vendida estimada em R$ 400 milhões, mas para isso precisaria que suas dívidas que vencem nos próximos oito anos fossem alongadas para um prazo de até 12 anos, segundo estimaram os advogados da empresa. A ata registrada do encontro com os credores diz que a solução precisa ser viabilizada em 60 dias. Esta seria uma data limite para evitar uma recuperação judicial, segundo contaram alguns advogados ao jornal O Estado de S. Paulo.
Do total da dívida de R$ 500 milhões, metade está nas mãos de investidores como fundos do JP Morgan, Fator, Cacique, XP e o investidor Flávio Ognibene Guimarães, que compraram Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs). A outra metade está com os bancos, entre eles o Bradesco. Também participaram da reunião representantes das empresas securitizadoras dos CRIs, como a Gaia Securitizadora e Cibrasec.
Parte dos credores ficou insatisfeita com a proposta, principalmente com a ideia de liberar o caixa da empresa. Quase toda a receita da companhia, oriunda das prestações pagas pelos clientes que compraram terrenos, está comprometida com os credores de Cris.
Pelas regras de emissão deste tipo de título, esta receita precisa ser direcionada para um caixa à parte, que é distribuído diretamente aos donos dos CRIs. Mas a Urbplan quer ter acesso ao dinheiro para poder gerenciar sua operação.
A hipótese de a empresa entrar em recuperação judicial não é considerada uma das melhores opções pelos credores, pois a inadimplência tenderia a crescer. Isso acontece porque os clientes tendem a acreditar que a empresa quebrou e que, portanto, não precisam mais pagar as prestações. Os credores e os advogados da Urbplan e do Carlyle não quiseram comentar.
A Urbplan foi o primeiro grande investimento brasileiro do Carlyle, famoso fundo de investimentos internacional. A empresa de loteamentos tem 84 empreendimentos em 18 Estados e mais de 45 mil terrenos comercializados.
Mas esta já e a segunda renegociação que fez. Em 2013, a empresa passou por uma crise que foi resolvida com um aporte de US$ 100 milhões do Carlyle, que assumiu a companhia. No fim de 2015, segundo credores, a empresa solicitou outra renegociação.
Na reunião da semana passada, os advogados disseram que o Carlyle vai aportar apenas mais R$ 10 milhões nos próximos três meses, que seriam suficientes para terminar obras em alguns loteamentos. Qualquer novo aporte para pagamento dos credores estaria descartado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.