Vamos ter de correr algum risco para gerar empregos, diz dono da Tecnisa

Um dos principais empresários do setor imobiliário, Meyer Nigri, fundador da incorporadora Tecnisa, defende a retomada ao trabalho para evitar uma crise econômica ainda mais profunda no País, mesmo em um cenário de alto índice de mortes por causa da pandemia da covid-19. "Minha posição é de não abrir tudo. O risco tem de compensar. Vamos correr algum tipo de risco que possa gerar emprego. Sou a favor de liberar com critério", disse.

O empresário participou na quarta-feira, 27, da série de entrevistas ao vivo <i>Economia na Quarentena</i>, do jornal <b>O Estado de S. Paulo</b>. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.

<b>O setor imobiliário vivia um novo boom antes de quarentena. O sr. vê a volta dos distratos com a pandemia?</b>

Antes do coronavírus, os distratos (rompimento de contrato) tinham caído a níveis muito baixos. Agora, pós-covid-19, não acredito que vá ter pedido muito significativo de distratos, considerando que os que compraram recentemente precisam do imóvel.

<b>As incorporadoras e construtoras vão tentar renegociar?</b>

O distrato não interessa a nenhuma das partes. A empresa perde e comprador também. É muito mais provável que as empresas vão tentar fazer acordo.

<b>Como está o cenário para a Tecnisa em meio à pandemia? Fizeram demissões?</b>

Não demitimos ninguém nos escritórios ou obras. As obras continuaram andando e foi a melhor coisa que poderia ter acontecido. Medimos a temperatura de todos os funcionários, todos os dias. Eles recebem máscaras e álcool em gel e trabalham em lugar aberto.

<b>Analisando o mercado imobiliário, haverá menor demanda por imóveis comerciais?</b>

Não sou especialista em escritórios, mas a sensação que tenho é que, num primeiro momento, haverá mais pessoas fazendo home office e isso deve demandar menos espaço. Por outro lado, vamos precisar não adensar tanto e espaçar mais.

<b>E em relação aos imóveis residenciais? Vai ter correção de preços para baixo?</b>

Não acredito, a não ser em imóveis avulsos. Para o incorporador, os preços não caem. As projeções até o início do ano eram de que os preços dos imóveis subissem. Não acho que vá subir. Para ter um bom ambiente no mercado imobiliário, é preciso duas coisas: emprego e financiamento imobiliário. O financiamento existe. É preciso ver como o nível de emprego fica.

<b>Há um desalinhamento do governo federal com parte dos governadores sobre o isolamento social. Qual sua opinião?</b>

Não sou especialista. Minha opinião é que o isolamento total faria mais sentido (em um primeiro momento). Porém, o brasileiro é indisciplinado – não somos nem Coreia nem Japão. Não adianta Jardins e Oscar Freire estarem com lojas fechadas, mas a periferia estar com todos circulando, transportes cheios. Se abrir serviços dentro dos protocolos, o risco de contaminação é mínimo. Estamos num jogo que não tem ganha-perde. É perde-perde. Temos de decidir com qual (estratégia) que se perde menos. Eu me preocupo muito com essa brecada porque vamos pagar esse preço depois.

<b>Vivemos neste momento uma instabilidade política em cima da crise econômica e sanitária. Isso atrapalha ainda mais?</b>

Claro. Sem entendimento entre as partes, todos perdem.

<b>Com o aumento de casos de coronavírus no Brasil, a pressão pela retomada da economia não minimiza a gravidade da situação da crise de saúde?</b>

Quem é a favor de voltar ao trabalho não está minimizando o tamanho da pandemia. Não é uma decisão (apenas) de saúde. Temos de tomar a decisão de perder um ou perder 20. Sei que é difícil para o político assumir que algumas pessoas vão morrer. Se não trabalharmos, a perda vai ser pior. Acho que ter parado por algum tempo foi saudável, para conscientizar a população. E não são todos os setores (que precisam voltar), são apenas aqueles que fazem a economia girar. O risco tem de compensar, tem de ter algum benefício do outro lado. Temos de arriscar um pouco para poder gerar empregos e diminuir o problema social.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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