Economia

Vestuário vê consolidação diante de expectativa de vendas fracas em 2015

O varejo de vestuário vive um período ruim e executivos reconhecem que 2015 não deve trazer grande fôlego para as vendas. É justamente neste momento, porém, que algumas das grandes companhias sentem necessidade de investir. Quem tem recursos, deve gastar fortemente para abrir lojas e ganhar mercado, principalmente às custas de concorrentes menores e menos preparados. Já outras empresas que não estão tão bem posicionadas estão restringindo investimentos e se reestruturando.

“Para o setor como um todo, 2015 não deve ser um ano bom”, diz Flávio Rocha, presidente da Riachuelo. “Diante da crise, porém, a fatia de mercado das cinco maiores redes está crescendo, trata-se de um processo de consolidação”, resume.

Junto com a Lojas Renner, a Riachuelo mantém para 2015 planos ambiciosos de investimentos em novas lojas. São 45 novos pontos de venda previstos por Rocha, ritmo de expansão igual ao de 2014. Na Renner, também estão mantidos os planos de expansão até 2021, com abertura de 408 unidades até lá. Outra concorrente entre as líderes, a C&A vem mantendo um ritmo de abertura de 25 a 30 lojas novas por ano, disse ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, o vice-presidente de vendas, Paulo Corrêa.

A justificativa para esses investimentos é explicada pela constatação de que o mercado de vestuário no Brasil ainda não tem um dono, como comenta o diretor Instituto de Estudos e Marketing Industrial (IEMI), Marcelo Prado. “Não existe uma ou duas empresas dominantes, então há espaço para uma consolidação semelhante à vivida pelo varejo de supermercados”, diz. Durante evento em Porto Alegre, o presidente da Renner, José Galló, defendeu tese semelhante. “Vai haver um mercado mais restrito e quem não conseguir apresentar diferenciais competitivos corre o risco de sair”, disse.

Além de inauguração de lojas novas, investimentos pesados em logística tem sido constantes entre os grandes do setor. Fusões e aquisições também devem contribuir para essa consolidação, diz Prado. Em 2014, a união da Restoque, dona da Le Lis Blanc, com a Dudalina, veio para reforçar essa visão.

A pressão por crescer vem ainda da procura de grandes redes internacionais por um espaço no mercado brasileiro. Mesmo passando por ajustes, varejistas como GAP e Forever 21 fazem planos de crescer no País. Ainda assim, é entre redes já bem estabelecidas no Brasil que a competição é mais forte, comentou o diretor de Vendas da Marisa Lojas, Arquimedes Salles. “Estamos vendo alguns concorrentes nacionais expandindo para regiões onde eles antes não tinham loja, como o interior de São Paulo”, declarou. “Isso num primeiro momento causa um certo impacto negativo para a gente”, reconheceu.

A Marisa vive um momento diferente das três principais concorrentes. A empresa vai reduzir investimentos em 2015 porque precisa ajustar suas operações. Depois de anos de investimentos em lojas novas, a percepção interna, segundo os próprios executivos, é de que a companhia está “inchada” e precisa cortar custos.

Outra empresa que decidiu revisar seus planos de expansão é a Cia. Hering. A empresa irá abrir menos lojas do que as 75 que se comprometeu a inaugurar em 2014. Reformas, soluções internas nas lojas já existentes e melhoria no relacionamento com franqueados serão o foco.

Vendas

As perspectivas para vendas no setor são pouco otimistas diante da constatação de que os consumidores tem reduzido sua intenção de gastar. “Vemos o ano de 2015 sem grandes expectativas e acreditamos que o consumo deve crescer pouco”, disse Frederico Oldani, diretor Financeiro e de Relações com Investidores da Cia. Hering.

Ainda assim, existe uma expectativa de melhora ante os números de 2014. A previsão do IEMI é de que o varejo de vestuário cresça 3,1% em volume em 2015. O indicador é melhor que a previsão de 2014, de 1,5%, ano impactado pelos feriados relacionados a Copa do Mundo que reduziu o fluxo de clientes nas lojas.

Curiosamente, a expectativa em torno de que a nova equipe econômica reduza incentivos ao consumo pode favorecer o setor. Para o diretor executivo da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex), Sidnei Abreu, as redes de vestuário tendem a ser beneficiadas caso haja mudanças nos incentivos que hoje existem para o consumo de bens duráveis porque a renda disponível do consumidor deixaria de ir para móveis e eletrodomésticos.

Há pouca clareza sobre qual deve ser a política da nova equipe a respeito do IPI reduzido para algumas categorias. Em evento com varejistas em dezembro, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, disse que algumas alíquotas do tributo negociadas como “permanentes” para alguns produtos, como materiais de construção civil e máquina de lavar automática, vão continuar. Já para os móveis, há uma expectativa de alta do imposto, conforme afirmou também em dezembro a presidente do Magazine Luiza, Luiza Helena Trajano.

Posso ajudar?