A oferta restrita de petróleo e derivados tem sido a principal causa do aumento dos preços do petróleo e dos derivados, principalmente o diesel, no mercado internacional, avaliam analistas. O momento, porém, é de alta volatilidade, devido a incertezas em relação à suspensão de exportações russas, o que deve levar a Petrobras a esperar mais tempo para amenizar a defasagem dos seus preços internos, já que não há risco de desabastecimento.
O preço do petróleo tipo Brent passou ao patamar de US$ 90 no início de setembro e na quarta-feira, 27, fechou em alta de mais de 2% nos contratos para dezembro, a US$ 96,55, depois de ter tocada a máxima de US$ 97,06 durante o pregão.
"Há necessidade clara de aumento de preço no diesel dada a dinâmica de paridade, mas não há risco de abastecimento no momento", avalia Luiz Carvalho, analista de óleo e gás do UBS BB.
Segundo Amance Boutin, especialista em combustíveis da Argus, o mercado está sim esperando um aumento para o diesel pela Petrobras, mas ainda há incerteza sobre como será a reação ao embargo das exportações da Rússia, o que deve segurar os reajustes no momento.
"De acordo com o que temos ouvido dos nossos colegas de fora, seria um tiro no pé a Rússia estender muito essa suspensão (de exportações). A entrada de divisas para a Rússia é muito importante, porque é muito dependente dessa receita. Eles fizeram isso (suspensão da exportação) para estocar produto, mas não tem onde estocar tanto produto. Traria mais danos do que benefícios para Rússia", explica.
Para Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos, a pressão vai aumentar a partir meados de outubro, quando o embargo russo deve começar, mas não existe previsão por quanto tempo essa medida pode durar, já que as exportações de petróleo e derivados são importantes para a Rússia.
Mesmo assim, o analista não vê motivo para a Petrobras fazer reajuste no momento.
"A maioria das consultorias fala em 15% de defasagem para o diesel da Petrobras. O grande ponto aqui é que não é uma defasagem que podemos considerar grande para a Petrobras, já teve defasagens maiores", diz Arbetman.
O último aumento do combustível pela estatal ocorreu em 16 de agosto, quando a defasagem em relação ao mercado internacional girava em trono dos 30% para a gasolina e diesel. A gasolina teve alta de 16,2% e o diesel de 25,8%.
"O que coloca mais pressão é a questão da Rússia não fazer mais exportações de derivados, e é isso que temos que ficar de olho, não sei quanto vai durar, mas isso põe pressão maior porque aumenta o custo marginal da Petrobras", explica Arbetman.
<b>Tendência</b>
Também o sócio e economista chefe da Monte Bravo, Luciano Costa, descarta aumentos pela Petrobras no momento. Apesar do aumento da defasagem em relação ao mercado internacional, que saiu da faixa dos 4% no início do mês para 15% esta semana, a tendência é de que a estatal absorva esta diferença até o mercado se mostrar mais estável.
"O nível que a gente está vendo de preço, normalmente não é o nível que a Petrobras tem feito aumento, ela tem preferido absorver e não repassar para o produto, e isso pra gente vale particularmente nesse momento(pela volatilidade), e a Petrobras pode optar por deixar o preço desalinhado um pouco mais de tempo até poder avaliar melhor a tendência do preço", afirma.
Bruno Cordeiro, analista de Inteligência de Mercado de Petróleo da StoneX, explica que além da Rússia a redução dos estoques de petróleo nos Estados Unidos também tem gerado preocupação no mercado sobre a oferta da commodity.
"O Brent está avançando principalmente após relatório semanal de indicadores de petróleo e derivados americanos, que mostraram que os estoques tiveram mais uma queda de 2,17 milhões de barris, acima do que esperava o mercado", disse Cordeiro, destacando que os estoques de petróleo em um hub de estocagem em Oklahoma, que recebe o petróleo de xisto, estão perto de cair abaixo dos 20% da sua capacidade. Hoje esses estoques operam com 22,4% da capacidade.
"A queda dos estoques nos Estados unidos vem gerando bastante preocupação no mercado. Existe perspectiva de que o indicador se aproxime dos 20% e traga receio de que a gente tenha mais dificuldade de chegada de petróleo nas refinarias americanas", completou.
Já na avaliação do presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Sergio Araújo, a estatal deve segurar os preços por um bom tempo, não apenas pela volatilidade do mercado.
"Iria gerar um preço maior para os consumidores, porque teremos o retorno da cobrança do PIS/Cofins no dia 1º de outubro, de R$ 0,0187 por litro", avalia Araújo.