Às vésperas de ter seu destino decidido pelo Tribunal Misto – que julga nesta sexta-feira, 30, seu processo de impeachment -, o governador afastado do Rio, Wilson Witzel (PSC), nega participação em irregularidades e parte para o ataque. Acusa o presidente Jair Bolsonaro de interferir na investigação que levou a seu afastamento pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), sob acusação de corrupção. "Meu processo teve o dedo de Bolsonaro." Também critica a subprocuradora-geral da República, Lindôra Araújo, que conduz a investigação do MPF, e os ministros da Corte Especial do STJ. Segundo ele, o presidente da Assembleia Legislativa, André Ceciliano (PT), se uniu à família Bolsonaro, apesar das divergências políticas, em nome de interesses "ideológicos e criminosos".
<b>O que o sr. diz em sua defesa? </b>
O processo foi aberto pelo presidente da Alerj, que também foi investigado. Há em relação a ele fortes indícios de participação nesse esquema criminoso na Saúde do Rio de Janeiro. O (ex-) secretário de Saúde (e delator Edmar Santos) participou de reuniões secretas com o presidente da Alerj, sem meu consentimento. Foram repassados valores para municípios sem minha autorização. É um Tribunal Misto parcial e maculado na sua origem por uma investigação com o objetivo de blindar alguns deputados que fazem parte desse esquema de corrupção de OSs muito antes da minha entrada no governo.
Não há qualquer valor que seja pago a mim ou participação minha em eventos suspeitos, diferente do que está acontecendo com André Ceciliano.
<b>Além do impeachment, há denúncias criminais do MPF.</b>
A dra. Lindôra, que acabou de ser representada por abuso de autoridade no CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) por mais de dez governadores, vem repetindo o discurso do presidente de que governadores aproveitaram a pandemia para roubar. As investigações contra mim foram feitas num tempo incompatível com a complexidade dos fatos. Até hoje não houve investigação sobre o presidente da Alerj. Ele foi blindado para abrir o meu impeachment e, assim, atender aos interesses de Bolsonaro.
<b>Acha que o processo teve dedo do presidente Bolsonaro?</b>
Certamente tem o dedo dele. Quem começou essa denúncia junto com a Lindôra foi o (deputado federal) Otoni de Paula. E há informações de que o dossiê contra mim foi elaborado dentro do Palácio do Planalto junto com o Otoni, tanto que ele é citado pela Lindôra no início da investigação. Você vê que é um movimento orquestrado do presidente contra os governadores. Aqui no Rio existem fatos ainda mais contundentes, porque eu determinei a investigação do caso Marielle (Franco, vereadora do PSOL assassinada a tiros). A partir daí, o presidente começa a entender que o governador do Rio estaria perseguindo a família dele e poderia ser um adversário em 2022. A história toda se passa nesse enredo.
<b>No âmbito criminal, os ministros do STJ aceitaram por unanimidade a denúncia do MPF contra o sr. Eles também fazem parte da suposta perseguição?</b>
Os ministros que estão na Corte Especial do STJ não são ministros com especialidade na área criminal. São ministros mais novos. Cometeram um grave equívoco ao desmembrar o processo. E o MPF induz em erro os ministros, porque dra. Lindôra conta só um lado da história numa investigação que não foi bem feita.
<b>No processo de impeachment, a requalificação da Unir é base da denúncia. O sr. assinou, mesmo com pareceres contrários. Isso não complica a defesa?</b>
Em hipótese alguma. Os pareceres que estavam nos autos eram equivocados, errados. Como juiz, cansei de ignorar parecer do MP porque não estava de acordo com meu entendimento. A desqualificação não era adequada, e mais: fizemos um levantamento de todas as Organizações Sociais (OSs), e a Unir não era a pior. Ali acendeu um alerta amarelo para mim de que o Edmar possivelmente estava envolvido em algum esquema com as OSs. Já estávamos em março, com a pandemia, e eu fiquei preocupado.
<b>O sr. acredita numa vitória no Tribunal Misto? </b>
Confio nos desembargadores. Nós já demonstramos que não houve pagamento de vantagem nenhuma. No julgamento técnico, não tem como me condenar.
<b>Quais são seus planos se sofrer o impeachment?</b>
Sou professor de processo, de ciência política, sou advogado, jurista, não dependo da política. Estou aqui por um ideal.
<b>E se tiver os direitos políticos mantidos, pretende concorrer em 2022 a algum cargo ou vai se afastar da política?</b>
Não quero me afastar da política. Entendo que precisamos fazer muito pelo Brasil. Pretendo trabalhar minha reeleição como governador, mas não descarto a possibilidade de ser candidato a presidente.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>