Economia

Zona leste é a região de São Paulo que mais atrasa pagamentos

Há oito anos, Oscar Argeri escolheu o número 5.713 da Avenida Sapopemba para abrir uma loja. Bastaram poucos meses para perceber que parte dos clientes da Vila Guarani, na zona leste da capital paulista, tinha dificuldade em pagar as parcelas em dia. Os atrasos no crediário próprio da Focus Calçados eram tão comuns que o empresário decidiu que o orçamento passaria a ser calculado com previsão de calote de 20%. A estratégia deu certo na região que mais atrasa pagamentos na Grande São Paulo – hoje Argeri tem quatro lojas.

O problema não é um fenômeno exclusivo da pequena loja de calçados. Segundo o Banco Central, a zona leste é líder nos indicadores de atraso das operações de crédito para a pessoa física na região metropolitana.

Em São Paulo, o ranking dos maus pagadores é liderado pelos clientes que vivem em bairros com código postal que começa em “08”, como Cidade Tiradentes, Guaianases, Itaquera e São Miguel Paulista, além de municípios vizinhos como Ferraz de Vasconcelos e Itaquaquecetuba. Os dados constam do Sistema de Informações de Crédito (SCR) do Banco Central.

Nessa área da Grande São Paulo, 13% das faturas de cartão de crédito têm atraso superior a 15 dias. O porcentual é mais que o dobro do visto no centro de São Paulo, onde clientes que vivem na Bela Vista, Higienópolis e Jardim Paulista têm atraso médio de 5,9% nesse tipo de operação. O extremo leste é também campeão em atraso no crédito pessoal (9,3%) e no financiamento para compra de veículos (2,4%).

Oscar Argeri conhece o problema muito antes de qualquer indicador econômico e, mesmo assim, a Focus Calçados continua oferecendo crediário próprio e sapatos podem ser parcelados em até dez vezes sem juros. “As pessoas são honestas, mas quando a situação aperta precisam escolher o que vão pagar. Aí, é melhorar esperar para receber do que não levar nada.”

O próprio Argeri pega o telefone e manda mensagens pelo WhatsApp para lembrar da dívida. “Se o cliente responde, congelo a dívida e não cobro juro. Normalmente, pagam 60 ou 90 dias depois”, diz. “Quando não consigo contato em 60 dias, eu protesto o nome da pessoa. Mas só 5% da carteira tem esse tipo de problema. A maioria paga.”

Mas a crise também atingiu a loja e os atrasos ficaram mais longos. Nos últimos meses, alguns dos clientes chegaram a ficar até 180 dias sem pagar. “Quando a crise acabar, muita gente estará com nome sujo. No shopping, não vão conseguir comprar nada parcelado, mas vamos financiar e vão voltar.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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