Cidades

Síndrome que afeta crianças e adolescentes e pode ter relação com a covid-19

Primeiros relatos são de países da Europa, seguidos por Estados Unidos; no Brasil o monitoramento começou em julho

Faz pouco tempo que o Brasil começou a monitorar e relatar casos da síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica (SIM-P), quadro potencialmente grave que afeta crianças e adolescentes e pode estar relacionado à covid-19.Por enquanto, pouco se sabe sobre esse quadro clínico, que apresenta diversos sintomas, atinge vários órgãos do corpo e, se não tratado correta e precocemente, pode matar.

Para entender o que já se sabe a respeito da SIM-P, a reportagem conversou com Marco Aurélio Sáfadi, presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), e Saulo Duarte Passos, médico e professor titular de pediatria da Faculdade de Medicina de Jundiaí.

Confira a seguir.

Descrita como síndrome inflamatória multissistêmica (SIM-P), o quadro clínico é, possivelmente, uma reação grave e tardia à infecção pelo novo coronavírus.

A condição pode afetar crianças e adolescentes de 0 a 19 anos, mas há Estados brasileiros que monitoram o quadro até 21 anos.

Os primeiros relatos foram registrados em países da Europa no final de abril, quando os serviços de saúde do Reino Unido e da França reportaram alguns casos.

No começo de maio, foi noticiado um número de 15 crianças hospitalizadas em Nova York (EUA).

Mais recentemente, começaram a ter registros no Brasil.

Hoje, estima-se que haja mais de 300 casos em todo o mundo.

No Brasil, o Ministério da Saúde publicou nota de alerta sobre a síndrome em maio e passou a fazer o monitoramento em julho.

Geralmente, a febre é o primeiro indício da condição, que pode estar acompanhada de dor no corpo, fraqueza muscular, dor de garganta, de cabeça e abdominal, além de diferentes manifestações gastrointestinais.

E como o próprio nome diz, a síndrome é multissistêmica é pode afetar vários órgãos e sistemas do organismo, como coração e sistema nervoso central.

Há, ainda, relatos de conjuntivite e manchas ou erupções vermelhas na pele.

“Isso vai progredindo e algumas crianças evoluem para choque, que é condição de maior preocupação e gravidade, além da hospitalização que motiva entrada em UTI”, diz Sáfadi.

Por enquanto, as evidências científicas são inconclusivas quanto a uma relação de causa e efeito entre a covid-19 e a SIM-P.

Sabe-se, porém, que a maioria das crianças e adolescentes identificada com a síndrome foi infectada pelo novo coronavírus.

Até o momento, fala-se em possível relação temporal, porque a condição clínica surge algumas semanas após um quadro de covid-19, mesmo que tenha evoluído bem.

Síndrome de Kawasaki 

O médico Saulo Duarte Passos explica que a SIM-P tem algumas características com a síndrome de Kawasaki, já conhecida, que ainda não tem causa definida.

“Uma das teorias é que ela seria causada por coronavírus (grupo de vírus), mas não se confirmou na prática.

Só teve um trabalho que correlacionou, mas não sustentou.

Com o número de casos devido à pandemia do novo coronavírus, se aventou novamente essa hipótese.

” Ele também é membro do grupo Rekamlatina, que reúne pesquisadores da América Latina para o estudo da síndrome de Kawasaki.

Em Jundiaí (SP), onde atende casos de Kawasaki, Passos relata que o hospital universitário costumava ter um ou dois casos da síndrome por ano.

Nos últimos sete meses, foram sete, dos quais três tiveram correlação com a covid-19 e desenvolveram SIM-P ao mesmo tempo.

Dois desses casos precisaram de internação na UTI por longo período.

Tratamento 

O tratamento varia de acordo com a situação da pessoas, mas além de cuidar de sintomas, como febre e dor de cabeça com antitérmicos e analgésicos, o tratamento é feito com modulador da imunidade e anticoagulantes, por exemplo.

O manejo clínico tem tido êxito, com a maioria das crianças se recuperando e raros óbitos.

Segundo os médicos, ainda é muito cedo para documentar sequelas, pois os casos são novos e precisaria de tempo maior para avaliar a evolução das crianças e adolescentes após a alta hospitalar.

No entanto, pela forma como a síndrome afeta o corpo, é possível que deixe marcas pulmonares, cardiovasculares ou neurológicas.

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