É de se lamentar toda a celeuma criada após o massacre do Realengo, em que diferentes lideranças políticas das mais diversas tendências, muitas sem crédito algum junto à população, apresentam as mais mirabolantes teses, que poderiam – em seus pontos de vista – evitar tragédias parecidas. A bola da vez do besteirol nacional, liderada pelo presidente do Senado, o ex-presidente José Sarney (justo quem), versa sobre o desarmamento. Ele, que não consegue explicar os desmandos em suas gestões à frente do Congresso Nacional, agora se torna, da noite para o dia, o paladino da moralidade ao defender um novo plebiscito sobre o desarmamento.
Quer, a toque de caixa, marcar para outubro próximo um referendo popular para mudar a Constituição e proibir o comércio de armas no Brasil. Ao ignorar que um pleito como esses, por baixo, custaria aos cofres públicos cerca de R$ 700 milhões, além dos gastos com propaganda, demonstra que – para ele – gastar o dinheiro do povo não é problema. Fala que o plebiscito realizado em 2005, que rejeitou o desarmamento, não valeu. Que as pessoas votaram errado. Sim, nisso ele tem razão. Tem gente demais que erra diante das urnas. Fosse diferente, ele jamais ocuparia o atual cargo.
O problema é outro. Não é por meio do desarmamento da população que se resolverá questões maiores. Muito mais que inibir o comércio (que já é bastante restrito), precisa haver o efetivo combate ao crime organizado, que traz para o Brasil, de forma quase que explícita, armamentos pesados na forma de contrabando. Precisa sim é desarmar os bandidos.
Via de regra, os criminosos não utilizam armas legalizadas para praticar os mais diferentes delitos. O grosso da bandidagem geralmente se utiliza dos artefatos que entram pelas portas dos fundos do país. Muitos, inclusive, são abastecidos com armas recolhidas pela própria polícia ou levadas das forças públicas, que – por vezes – não conseguem cuidar de seus próprios materiais de trabalho.
Promover referendo, proibir o cidadão comum de utilizar armas são ações que só terão um caráter marqueteiro, que servirão apenas como cortina de fumaça para esconder descalabros muito maiores, patrocinados justamente por quem deveria defender a lei e a ordem. Vamos ser contra as armas sim. Mas sem demagogias ou invencionices de araque. Plebiscito só se for para exorcizar da política brasileira sujeitos como esse infeliz presidente do Senado.