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Quarto de Jack: uma das belas surpresas do Oscar

Forte, pesado, claustrofóbico e, ao mesmo tempo, delicado e profundo. Essas são algumas definições que podem ser atribuídas para “O Quarto de Jack”, excelente drama dirigido pelo irlandês Lenny Abrahamson (de “Frank”), baseado no best-seller homônimo de Emma Donoghue (“Quarto”, veja as informações do livro no final do texto) – além de se aprofundar em pesquisas sobre sequestros e casos sobre crianças que cresceram longe dos contatos com a sociedade, a autora, que também assina o roteiro, se inspirou na história real de uma mulher que foi mantida em cativeiro pelo próprio pai, com quem teve cinco filhos.
 
Premiado como melhor filme pela escolha do público no Festival de Toronto, o longa da Universal Pictures concorre ao Oscar 2016, nas categorias Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Atriz (Brie Larson) e Melhor Roteiro Adaptado. Este ano, Brie Larson já foi premiada como melhor atriz no Globo de Ouro, no Bafta (o Oscar britânico) e no SAG Awards (Sindicato de Atores dos Estados Unidos), e é uma das favoritas para conquistar o Oscar. E com razão, ela está ótima ao lado do excelente ator mirim Jacob Tremblay (de “Mamãe Precisa Casar”), que também deveria estar concorrendo ao Oscar.
 
“O Quarto de Jack” (Room) conta a história de Jack (Tremblay) e sua mãe Joy (Larson), que vivem confinados em um quarto de 10m² sem janelas – Joy foi raptada, presa e estuprada ao longo de sete anos pelo seu sequestrador e neste período nasce o filho Jack. Por viver nesse pequeno espaço, o menino cresce achando que o mundo se resume ao quarto, mas quando completa cinco anos, sua curiosidade sobre a condição em que vive começa a crescer. A partir daí, Joy começa a traçar um plano de fuga.
 
Narrado pelo próprio Jack, o filme é bem conduzido pelo diretor, que soube tirar o melhor de seus dois protagonistas, sem apelar para violência explícita, focando mais nos sentimentos e a relação de mãe e filho. Mesmo parecendo lento no início, o espectador acaba se envolvendo com o mundo em que vivem os dois personagens e a angústia da mãe, que até aquele momento só se preocupava em deixar seu filho o mais confortável possível e longe da realidade do mundo externo, e se viu obrigada a tirá-lo o mais rápido possível daquele lugar, por sentir que ele poderia estar correndo perigo. Tudo isso só na primeira parte do filme. Tem muito mais, que vale a pena conferir.
 
 
Livro mostra a inocente e tocante perspectiva do mundo
 
 “Quarto” procura ensinar como o amor é capaz de vencer qualquer barreira.  A íntima relação de cumplicidade entre Jack e sua Mãe é o que move o livro e faz com que ambos os personagens consigam suportar, de forma criativa, o cárcere em um quarto com menos de 10 metros quadrados. 
 
Narrado por Jack, um garoto esperto de cinco anos, Emma Donoghue escreve uma obra profunda, inspirada no caso Josef Fritzl. O ponto de vista do menino ameniza os horrores do sequestro e proporciona uma visão original e expansiva do mundo. Durante a história, Jack, que nasceu em cativeiro, precisa assimilar todas as coisas que existem “lá fora” do Quarto.
 
O romance ganhou o título de melhor livro pelo New York Times e pelo Independent. Segundo a editora, informações da editora Verus, para ingressar melhor no universo infindável de Jack, Donoghue usou a experiência com seus filhos. “Tudo o que eu posso presumir é que ter filhos preparou o terreno para que eu escrevesse “Quarto”, porque eu já havia passado quatro anos pensando em crianças, em como elas são diferentes dos adultos, e em como ser mãe representa uma ruptura e uma mudança de vida”, afirmou.
 
A autora também se aprofundou em pesquisas sobre sequestros e casos sobre crianças que cresceram longe do contato com a sociedade. “Li coisas que preferiria esquecer. Complementei minhas pesquisas explorando todos os tipos de configurações familiares que pudessem ter alguma relação com o que Jack vivia: a relação mãe e filho nas prisões da Escandinávia, adoções internacionais, crianças refugiadas, filhos autistas… Imaginei que tudo isso fosse me ajudar a entender exatamente quais experiências Jack teria no Quarto, quais objetos ele teria contato e quais ele só veria pela televisão: tudo o que se passava em sua cabeça. Então, foi fácil descobrir como Jack reagiria às novas descobertas. As crianças são assim, elas estão constantemente encontrando coisas e regras na nossa sociedade que elas acham estranhas”, disse.
 
Sobre a autora – Emma Donoghue nasceu em Dublin, é escritora de ficção contemporânea e histórica. Seus romances incluem Slammerkin, The Sealed Letter, Landing, Life Mask, Hood e Stir-fry. Emma mora em London, província de Ontário, Canadá. 
 
QUARTO
Emma Donoghue
(Room)
Páginas: 350 
Tradução: Vera Ribeiro
Preço:  R$ 29,90
Editora: Verus (Grupo Editorial Record) 
 

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