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Leonard Cohen viajou o mundo em busca de respostas e pode tê-las encontrado

No álbum New Skin For The Old Ceremony, de 1974, Leonard Cohen lançou a canção Field Commander Cohen – uma espécie de paródia de sua experiência recente no campo de batalha. Em outubro de 1973, ele havia deixado a ilha de Hidra, na Grécia, rumo a Tel Aviv. Israel estava em guerra e sua intenção era defender seu povo – mas também fugir de um casamento que ele sentia que lhe aprisionava.

Ele não conseguiu se alistar no exército, mas foi ao campo de batalha com um grupo de artistas que entretinham as tropas nos intervalos do combate. De lá, viajou para a Etiópia, também à beira de uma guerra, e compôs num quarto de hotel Chelsea Hotel #2, uma de suas músicas mais célebres, sobre a relação com Janis Joplin em Nova York. Pouco antes, havia escrito There Is A War (que é, na verdade, sobre o casamento que queria evitar). Depois da África, Cohen se deslocou pela segunda vez ao monastério do Monte Baldy, com o mestre Kyozan Roshi, fez seu primeiro curto retiro, e voltou para a casa em Montreal – onde o sossego inesperado na relação com Suzanne Elrod resultou no segundo filho do casal.

“Há oportunidade de sentir coisas (na guerra) que você simplesmente não consegue vivendo na cidade moderna”, disse Cohen na época, conforme a excelente biografia Im Your Man, de Sylvie Simmons, publicada no Brasil em abril deste ano pelo selo BestSeller. A anedota ilustra um caráter muito interessante da vida nada convencional de Cohen: uma inquietação permanente, se não em busca das respostas, na procura incessante pelas perguntas corretas.

Cohen fez faculdade na sua Montreal no fim dos anos 1950, começou a publicar poemas e livros e ganhar notoriedade. Ele teve então uma curta temporada em Nova York (onde encontrou Allen Ginsberg e os beats). Em 1959, mudou-se para Londres para escrever, mas, após cruzar com um casal bronzeado e bem humorado em um banco, resolveu se mandar para a Grécia (“o clima era maravilhoso”, eles disseram). Ao se instalar na ilha de Hidra, que entre viagens seria sua casa pela próxima década, ele conheceu “a” Marianne, criou um enteado, se entupiu de anfetaminas e escreveu seus romances e publicou um de seus livros de poemas mais célebres, Flowers For Hitler. Viveu em Cuba um período como turista, e estava em Havana no dia da invasão da baía dos Porcos.

No fim dos anos 60, mudou-se para Nova York – a de Andy Warhol e do Velvet Underground, e de Nico – para perseguir a carreira de cantor, e lá descobriu que Lou Reed era seu fã. Apaixonou-se e viveu um romance com Nico, que inspirou mais de um par de canções. Conheceu Dylan. Sua carreira musical engatou.

Durante os anos 1970 e 80, Cohen produziu no seu ritmo tranquilo e fez grandes turnês pelo mundo todo, passando longos períodos em Montreal. A década de 80 não foi fácil para muitos artistas surgidos nos 60, mas Cohen concretizou com suas canções uma mudança que lhe redefiniria a carreira para sempre: ele se familiarizou com o sintetizador, seu instrumento preferido nos últimos 30 anos de vida. Lançou The Future, em 1992, acompanhado de turnês de sucesso nos EUA e na Europa – em setembro de 1994, decidiu se retirar no Monte Baldy, agora para valer.

Entre uma vida de privação – mas com a criatividade ativa, escrevendo e compondo na sua cabana -, viveu cinco anos retirado do show biz. Em 1999, deprimido, finalmente deixou a montanha – em direção à Índia, onde viveu cerca de um ano, período que “lhe levantou o véu da depressão”. Voltou a Los Angeles, onde viveu a maior parte dos anos seguintes – a peregrinação não havia acabado totalmente. Os passeios do velho comandante pelo mundo ainda lhe renderam vários discos e dezenas de canções – ainda bem.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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