Além de máquinas voadoras, Alberto Santos-Dumont criou objetos que a humanidade consideraria bem menos importantes. Alguns deles estarão expostos no Itaú Cultural a partir deste sábado, dia 26.
Um lançador de boias para salvar vidas no mar é um deles. Alguns depoimentos diziam que o instrumento, uma espécie de catapulta que lançava a boia em direção ao afogado em potencial, teria conseguido evitar dois afogamentos.
O conversor marciano é outra das peças que levaria seu criador à falência se ele não tivesse se preocupado com objetos mais relevantes. Trata-se de um equipamento de propulsão acoplado nas costas do esquiador que deseja se movimentar na neve.
As pequenas invenções de Santos-Dumont são detalhes curiosos perto das réplicas de seus objetos voadores. A maior delas é a reprodução da Demoiselle, considerado por muitos o melhor projeto concebido pelo inventor. “As pessoas falam muito do 14 Bis, mas a Demoiselle se tornou sua invenção mais estável”, conta Marcos Cuzziol, estudioso do assunto e diretor de inovação do Itaú Cultural.
A réplica da bela Demoiselle, de 5,5 metros de envergadura por 6 metros de comprimento, é uma das emoções na experiência proposta pela mostra. “Antes dela, os protótipos apareciam todos com a cauda na frente, por causa de um acidente com o planador de um inventor que usava a cauda atrás. A Demoiselle deu mais estabilidade para as aeronaves”, diz Cuzziol.
Santos-Dumont, em mais um traço de desapego material, tornou disponível para o mundo os desenhos de sua obra-prima, sem exigir nenhum pagamento de royalties para quem quisesse se aventurar na criação de réplicas. Uma revista norte-americana publicou as plantas e muitos protótipos começaram a surgir inspirados em seus estudos.
Outro dos documentos importantes selecionados da Coleção Brasiliana é um desenho de protótipo feito por Santos-Dumont um mês e cinco dias antes de sua morte.
Uma versão conta que o aviador teria se enforcado em 1932, aos 59 anos de idade, depois de avistar aviões em combate nos céus do Guarujá em plena Revolução Constitucionalista. No atestado de óbito, no entanto, assinado pelos legistas Roberto Catunda e Ângelo Esmolari, consta como causa da morte um ataque cardíaco.
O desenho abre uma interpretação interessante, que vai contra a tese de suicídio.
Dumont poderia não estar deprimido nem longe das criações que haviam marcado sua vida. O fato é que permanecem nebulosos os motivos que teriam levado o aviador a se enforcar, como disseram as camareiras que acharam seu corpo no Guarujá. A visão dos aviões de combate o levando ao desespero pode ser uma cena de final de filme comovente, mas não é real. Santos-Dumont já tinha sua glória quando eles surgiram no horizonte.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.