Variedades

A maior princesa

Na sexta-feira, 23, Carrie Fisher pegou um avião em Londres e voou para Los Angeles, para passar o Natal em família. Fora à Inglaterra para lançar o novo livro, Meu Diário como a Princesa Leia. Deu entrevistas, recebeu o carinho dos fãs. Ninguém imaginava que iria ocorrer aquilo – em pleno voo, sentiu-se mal. Desembarcou inconsciente, já diagnosticada com um ataque cardíaco.

Surgiram algumas notícias otimistas, mas, no domingo, 25, em pleno Natal, o irmão pediu uma corrente de orações. Seu estado era crítico. Piorou ainda mais – na terça-feira, 27, terminou a última batalha da princesa mais amada do cinema. Carrie Fisher morreu, aos 60 anos, que completou em 21 de outubro. Foi casada com Paul Simon, com quem teve a filha, Billie Catherine.

Na economia, na política, nas artes, 2016 tem sido duro. Acaba logo, ano. Que venha uma nova esperança em 2017. É justamente a fala final da princesa Leia em Rogue One – Uma História Star Wars, de Gareth Edwards. Embora muito bom, o filme – e também a animação Sing – está sendo atropelado pelo novo Paulo Gustavo, Minha Mãe É Uma Peça 2.

Muita gente reclama da reduzida participação de Leia em Rogue One. A história do roubo dos planos da Estrela da Morte é anterior a O Retorno de Jedi, que virou Episódio VI. Carrie foi vista como uma Leia quase sexagenária, mas ainda firme na liderança dos rebeldes contra o Império em Episódio VII – O Despertar da Força. Que mágica poderia fazer com que ressurgisse jovem em Rogue One? A mágica chama-se “digitalização”. Não deu muito certo. Leia virou uma espécie de boneca, mas ainda será vista, em dezembro do ano que vem, quando estiver se completando um ano de sua morte, em Star Wars – Episódio VIII, ao lado do irmão, Luke Skywalker/Mark Hamill.

Filha da também atriz Debbie Reynolds, famosa por seus musicais na Metro – entre eles o clássico Cantando na Chuva -, Carrie tinha 2 anos quando seu pai, o cantor Eddie Fisher, foi consolar Elizabeth Taylor, que ficara viúva, e terminou abandonando mulher e filhos. Foi um típico escândalo hollywoodiano na segunda metade dos anos 1950 e, com certeza, repercutiu na vida familiar, mas fica para a psicanálise definir até que ponto isso contribuiu para o distúrbio de transtorno bipolar e o vício de cocaína que, em diferentes momentos, quase acabaram com a vida de Carrie.

Em 1973, prestes a completar 18 anos, matriculou-se na London Central School of Speach and Drama. Na sequência, foi aceita no curso de Artes do Sarah Lawrence College, que abandonou ao ser escolhida para o papel de Leia em Star Wars/Guerra nas Estrelas, de George Lucas, em 1977.

Foi onde tudo começou – a saga intergaláctica, o megassucesso de Lucas e seu elenco. Carrie, Mark Hamill e, principalmente, Harrison Ford. Aos 21 anos, por insegurança ou o quê – talvez tenha sido só para desfrutar a nova liberdade que o feminismo concedera às mulheres -, Carrie já se transformara numa devoradora de homens. Entre seus casos, sim, você acertou, Harrison Ford e ela tiveram um tão tórrido quanto breve romance. Pouco antes, em 1975, ela fizera um pequeno papel em Shampoo, de Hal Ashby, e também andou ficando com Warren Beatty, que dividia o holofote com Julie Christie, sua parceira na época, e Goldie Hawn. Depois de Guerra nas Estrelas, Carrie seguiu aparecendo com destaque em O Império Contra-Ataca e O Retorno de Jedi, em 1980 e 83.

Fora da série, Carrie enumerou papéis de maior ou menor destaque em filmes de John Landis (Os Irmãos Cara de Pau), Sidney Lumet (Garbo Fala!), Woody Allen (Hannah e Suas Irmãs) e Rob Reiner (Harry e Sally – Feitos Um para o Outro). Foram anos de muita atividade, entre cinema e TV. Carrie virou ícone da cultura nerd. Vale lembrar que, no lançamento de O Retorno de Jedi, havia posado com um biquíni de metal na capa de Rolling Stone. A edição foi uma das que mais rapidamente se esgotou, em toda a história da publicação, e o biquíni tornou-se referência cultural do século 20. Mas o sucesso não lhe bastava. Sabe aquela angústia que corrói a alma? Carrie a sentia. Tentava aplacar com drogas, com sexo. Salvou-a, como ela disse certa vez, a escrita.

Em 1987, aos 31 anos, publicou o primeiro livro – Postcards from the Edge, parcialmente autobiográfico, sobre a relação tumultuada de uma jovem atriz viciada em drogas com a mãe estrela de cinema. Em 1990, Mike Nichols assinou a adaptação para cinema, com Meryl Streep e Shirley MacLaine nos papéis de, digamos, Carrie e Debbie. Chamou-se, no Brasil, Lembranças de Hollywood. Carrie tomou gosto pela escrita e não parou mais. Surgiram novos livros – Surrender the Pink, Dellusions of Grandma. Carrie tornou-se roteirista, muitas vezes sem crédito, mas com a fama de conseguir consertar scripts mal escritos e estruturados. Um exemplo – Máquina Mortífera 3, o mega-hit de Mel Gibson e Danny Glover.

No teatro, fez Agnes de Deus, nos anos 1980. Mais de 20 anos depois, escreveu o espetáculo solo autobiográfico Wishfulk Drinking. Matou de rir plateias dos EUA e da Inglaterra com a desgraceira de sua história familiar. A peça virou livro (mais um) e a incansável Carrie ainda escreveu mais uma (auto)biografia – como a princesa Leia, sua personagem mais famosa. Para os fãs, como Leia, será eterna. Sua mãe, que já enterrou Eddie Fisher (em 2010) e Elizabeth Taylor, com quem voltara às boas (em 2011), enterra agora a filha. Que a Força esteja com Debbie. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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