O público do Black Sabbath pedia por mais uma música. A última da importante carreira da banda que ajudou a fundar os pilares do heavy metal ainda em 1968. Na noite de 4 de fevereiro de 2017, Ozzy Osbourne, Tony Iommi e Geezer Butler estavam de volta à sua cidade, Birmingham, para uma última apresentação, quase quatro décadas depois. “One more song! One more song!”, gritavam aqueles à beira do palco. O trio da formação original, somado a Tommy Clufetos (bateria) e Adam Wakeman (teclado), subiu para mais uma canção. Tocaram Paranoid, música que dá nome ao segundo disco deles, um dos seus mais potentes sucessos do início da carreira da banda, que canta sobre temas sombrios como depressão e niilismo. Findada a apresentação, o barulhento Sabbath se silenciou para sempre. No more Songs.
Aos 69 anos, falando da mansão que tem em Beverly Hills, na Califórnia, Estados Unidos, Ozzy anda para lá e para cá, a frente do telefone com a opção de viva-voz ligada. Sua voz aproxima-se e se afasta. Por vezes, se aproxima do microfone e grita para ouvir a pergunta mais uma vez. A entrevista é cronológica e tem início na cena descrita acima. O sentimento de Ozzy naqueles momentos antes de voltar ao palco para o último bis com a banda que lhe transformou um dos maiores nomes do rock mundial. Mas, como um bom rockstar, e provavelmente milhares de entrevistas concedidas nos últimos 50 anos, o vocalista veste sua desgastada porém resistente armadura para falar sobre o que realmente lhe toca. “Estávamos juntos novamente há quase dez anos”, diz Ozzy, sobre a despedida do Sabbath. “O que fica é um sentimento de que acabou, eu não queria ficar muito emocionado.”
Silêncio que não era suficiente, ainda, para Ozzy. O conhecido como Príncipe das Trevas, conhecido pela história de morder a cabeça de um morcego, em 1982 – ele achou que era uma imitação do bicho de borracha e por isso decidiu abocanhar o animal, acredite – queria fazer barulho um pouco mais. Cinco meses depois, iniciou uma breve sequência de shows pelos Estados Unidos e, no fim de 2017, revelou seu último plano: uma turnê de despedida da carreira solo.
Curiosamente, pela segunda vez, já que ele se aventurou pelo mundo com a No More Tours Tour (algo como “turnê do fim das turnês” ), em 1992, e, três anos depois, anunciou um novo giro, a Retirement Sucks Tour (“aposentadoria é uma porcaria”).
Agora, ele estreia a sua nova “aposentadoria”. A No More Tours II Tour tem início neste mês de abril, nos Estados Unidos, e segue para a América Latina em maio, passando por México, Chile, Argentina e Brasil. Por aqui, Ozzy se apresentará em São Paulo (Allianz Park, dia 13 de maio), Curitiba (Pedreira Paulo Leminski, dia 16), Belo Horizonte (Esplanada do Mineirão, dia 18) e Rio de Janeiro (Jeunesse Arena, dia 20).
“Mas eu não estou me aposentando por completo”, apressa-se na dizer o senhor Osbourne. Seus planos são realizar shows pontuais – inclusive, ele não descarta uma outra volta ao Brasil – o que ele não pretende mais é seguir com as longas excursões pelo mundo. Por enquanto, sua agenda tem shows marcados até outubro deste ano. Depois, nem mesmo Ozzy Osbourne sabe. “É minha esposa (e empresária Sharon Osbourne) quem decide essas coisas”, ele explica. “E eu vou seguindo.”
O fato é que a idade e os anos de abuso ao longo da vida adulta cobram um preço alto na atualidade. Com 69 anos, sua locomoção é debilitada e, nos palcos, nos shows mais recentes solo, ele tem tocado treze músicas e há um enorme solo de bateria para que o Madman (outro apelido de Ozzy) possa descansar na metade do show.
Depois de viver os altos e baixos da vida de rockstar, o que Ozzy Osbourne quer, mesmo, é descansar. Ele não quer saber de novas bandas. “Ouço só canções antigas, coisas de Beatles, Led Zeppelin, embora vez ou outra algum grupo me surpreenda”, ele diz – mas não se lembra do nome de um grupo que o tenha surpreendido. Ainda assim, é um sujeito do seu tempo e gosta de escutar suas músicas em um aplicativo de música por streaming no seu iPad.
Aos poucos, entre algumas frases balbuciadas e outras ditas distantes demais do microfone do aparelho celular, Ozzy deixa cair a armadura do roqueiro durão. Mostra a dúvida: “ninguém mais compra discos, o que eu devo fazer?”, ele diz. “Posso gravar alguma coisa, quando tiver uma chance, mas não sei”, conclui – ou não.
O fato é que, 50 anos desde que estreou com o Black Sabbath, Ozzy entende que o tempo age e é implacável. A lista de artistas razoavelmente da sua geração que anunciaram aposentadoria recentemente é grande: Eric Clapton, Elton John, Paul Simon, Neil Diamond, Rush… Em todos esses casos, os artistas venceram seus próprios demônios e, agora, querem viver. É o que quer Ozzy Osbourne.
“Sabe”, ele diz, “depois desses shows dessa turnê, eu vou para casa, curtir o Natal. Eu tenho que cuidar da minha sobriedade, entende? Não estive próximo dos meus filhos na infância e queria, agora, estar próximo dos meus netos.” Por fim, Ozzy admite o inevitável. “Estou nessa há 50 anos. Estou cansado.”
OZZY OSBOURNE
Allianz Parque.
Rua Turiassu, 1840, Perdizes. Dia 13 de maio (dom.),
às 21h30. R$ 260 a R$ 680.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.