Mundo das Palavras

A falta que Barbosa faz

Quem não se lembra dos incômodos físicos sofridos pelo ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal-STF, durante o longo julgamento do chamado Mensalão, a compra de apoio nas votações do Congresso pelo Partido dos Trabalhadores e por outras organizações partidárias, aliadas dele? 
 
Como relator do processo do Mensalão, Barbosa foi obrigado a suportar intensas e infindáveis dores na coluna enquanto cumpria sua obrigação de ler centenas de páginas, diante dos outros ministros e das câmeras pelas quais eram transmitidas as sessões do tribunal. Ora fazia as leituras de pé, em busca de algum alívio. Ora ficava quase deitado em sua poltrona. 
 
Muitas daquelas dores sem dúvida foram agravadas pela tensão política gerada por ele mesmo ao tornar públicos os crimes de grandes figurões da República através de seu relatório dele. Uma tensão que Barbosa aumentava,  no decorrer daquelas sessões, com seu mau humor, natural nas condições tão adversas nas quais ele cumpria com valentia seu papel. De vez em quando, explodia a impaciência dele em atritos  com seus colegas ministros, com advogados de defesa dos réus, e, até com jornalistas encarregados por suas publicações de cobrir o desenrolar do processo. 
 
O que aquele período representou, na carreira de Barbosa, talvez ele, um dia, revele num livro autobiográfico. O certo é que, graças à atuação dele, ocorreu algo completamente inédito na História Política do Brasil: líderes políticos poderosos e famosos foram presos por corrupção do Congresso.
 
Depois de encerrado o processo do Mensalão, Barbosa se aposentou e quis retornar ao exercício da sua atividade original, a advocacia. O presidente da OAB de Brasília, no entanto, tenta impedi-lo, numa vingança corporativa, por causa daqueles desentendimentos que ele teve com advogados, negando-lhe a inscrição na entidade.     
 
Mas, ninguém duvide, Barbosa logo será lembrado com saudade e admiração pelo preço que pagou por sua lealdade à Justiça. Pois já é de amplo conhecimento dos brasileiros que o Mensalão passará a ser visto como crime de gang de amadores, diante do escândalo provocado pela descoberta da dimensão do esquema de corrupção montado na Petrobrás. E alguém acredita que entre os ministros maneirosos, de fala mole e circunlóquios, ainda em atividade no STF, surgirá alguém com a fibra e a determinação de Barbosa?   
 

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