Mesmo com a realização de reformas, Brasil e México não terão crescimento asiático em razão de fragilidades estruturais, como baixo nível de poupança e investimentos, má qualidade da educação, reduzida produtividade e frágil Estado de Direito, disse na quinta-feira, 09, o diretor do Departamento para o Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI), Alejandro Werner.
Ainda assim, a adoção de reformas definirá a diferença entre crescer menos de 2% e alcançar expansão de 4% no fim do próximo governo, ressaltou o economista-chefe do Itaú, Ilan Goldfajn, em painel sobre América Latina durante a reunião anual do Fundo. O Brasil que surgirá de cada um desses cenários será totalmente diferente. “Com 4%, é possível dobrar a renda em 20 anos. Com 1,5%, isso vai demorar muito mais tempo”, observou em entrevista.
Ex-diretor de Política Econômica do Banco Central, Goldfajn afirmou que será impossível o Brasil manter as conquistas sociais da última década sem expansão do PIB. “Não dá para preservar os ganhos sociais e a renda se crescer zero.” Qualquer que seja o próximo presidente, ele terá de priorizar reformas que aumentem a produtividade e a eficiência da economia e mudem o modelo de desenvolvimento baseado no consumo para um que seja impulsionado pelo investimento, defendeu.
Christine Lagarde, diretora-gerente do FMI, também defendeu que o futuro governo brasileiro realize reformas. “Muitas reformas estruturais são necessárias. O trabalho maciço em infraestrutura hoje em curso e algumas reformas têm de avançar e ser completadas”, disse Lagarde em outro painel.
Pessimismo
O México adotou uma série de reformas estruturais, a mais recente delas no setor de energia. Com as mudanças, o país se transformou em um dos favoritos dos mercados financeiros na região, ainda que registre baixo crescimento. Ao mesmo tempo, o Brasil passou a ser visto com pessimismo, agravado em um cenário de possível reeleição da presidente Dilma Rousseff.
“Eu trabalhava no governo mexicano no momento em que eles (mercados) estavam nos criticando e glorificando o Brasil. Agora é o oposto. Acredito que a verdade está provavelmente no meio”, ressaltou Werner, que é mexicano.
Na avaliação de Goldfajn, a elevação dos juros nos Estados Unidos a partir do próximo ano é uma ameaça mais real para o Brasil do que uma eventual desaceleração acentuada da China, que ele considera improvável. Mas o efeito da mudança na política monetária da maior economia do mundo terá efeito por um período limitado, na forma de volatilidade do câmbio e aumento da saída de capitais do país. Passada a turbulência, o Brasil se beneficiará da maior demanda americana. “O juro só sobe quando uma economia está crescendo, o que não pode ser uma má notícia. No momento da subida do juro, tem que segurar a onda. Depois, se beneficia.”
O vice-presidente do Federal Reserve, Stanley Fischer, afirmou em outro painel que os mercados estão “mais ou menos” certos ao prever que o ajuste dos juros começará a ocorrer em meados de 2015. Mas ele ressaltou que a decisão estará condicionada às estatísticas sobre o comportamento da economia.
Os últimos dados sobre criação de postos de trabalho e crescimento do PIB indicam que os Estados Unidos estão se fortalecendo. No mês passado, o desemprego caiu para 5,9%, na primeira vez em que o indicador ficou abaixo de 6% desde a crise financeira de 2008.
As atas do Federal Reserve afirmam que a primeira elevação dos juros ocorrerá em um “tempo considerável” depois do fim do estímulo monetário representado pela compra de ativos, pela qual a autoridade monetária injeta recursos na economia. A conclusão do programa deve ser aprovada na próxima reunião do Comitê de Mercado Aberto do Fed, no fim deste mês. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.