A Polícia Federal deflagrou nesta sábado, 1º, a Operação Spectrum para desarticular um esquema transnacional especializado no tráfico internacional de drogas e lavagem de dinheiro. O esquema seria comandado por Luiz Carlos da Rocha, vulgo cabeça branca, um dos traficantes mais procurados pela Polícia Federal e Interpol na América do Sul, que foi preso. Ele é um dos “barões das drogas” do Brasil ainda em liberdade, segundo a PF, com condenações proferidas pela Justiça Federal que somam mais de 50 anos de prisão.
Em nota, a PF informou que cerca de 150 agentes cumprem 24 mandados judiciais, sendo dois de prisão preventiva, nove de busca e apreensão em imóveis, dez de busca e apreensão de veículos e três de conduções coercitivas a serem cumpridos nas cidades de Londrina (PR), Araraquara (SP), Cotia (SP), Embu das Artes (SP), São Paulo (SP) e Sorriso (MT). As ordens judiciais foram expedidas pela 23ª Vara Federal de Curitiba (PR).
O nome da operação, derivado do latim, tem o significado na língua portuguesa como espectro/fantasma, uma referência ao líder do esquema, que vivia discretamente e nas sombras, reconhecido no meio policial pela experiência internacional, transcontinental e com larga rede ilegal de relacionamentos, desviando-se das investidas policiais há quase 30 anos.
Segundo a Federal, Luiz Carlos da Rocha foi recentemente localizado pela área de combate ao tráfico de drogas da Polícia Federal mesmo com as alterações de suas feições faciais promovidas mediante cirurgias plásticas, a exemplo do que fez outro mega traficante internacional preso pela Polícia Federal em 2007, o colombiano Juan Carlos Ramírez-Abadía, vulgo Chupeta.
Diante da suspeita de identificação de Cabeça Branca, foi acionada área pericial da Polícia Federal que, de posse de dados fotográficos com os antigos traços faciais de Luiz Carlos da Rocha e a atual identidade fotográfica de Vitor Luiz de Moraes, concluiu-se que Luiz Carlos da Rocha e Vitor Luiz de Moraes é a mesma pessoa.
“A organização criminosa de tráfico internacional de drogas liderada por Luiz Carlos da Rocha, o Cabeça Branca, possuía perfil de extrema periculosidade e violência, sendo desvendada durante as investigações a utilização de escoltas armadas, ações evasivas, carros blindados, ações de contra vigilância a fim de impedir a proximidade policial, porte de armas de grosso calibre, bem como o emprego de ações violentas e atos de intimidação para se manter em atividade por aproximadamente 30 anos no tráfico internacional de drogas e lavagem de dinheiro”, diz a nota da PF.
Cocaína
A Federal afirma que o esquema capitaneado por Cabeça Branca operava como uma estrutura empresarial. Controlando e agia desde a área de produção em regiões inóspitas e de selva em países como a Bolívia, Peru e Colômbia, até a logística de transporte, distribuição e manutenção de entrepostos no Paraguai e no Brasil. Fixava-se ainda em áreas estratégicas próximas aos principais portos brasileiros e grandes centros de consumo, dedicando-se à exportação de cocaína para Europa e Estados Unidos. Também foi apurado que Luiz Carlos da Rocha é um dos principais fornecedores de cocaína para facções criminosas paulistas e cariocas.
“Estima-se que a quadrilha liderada por ele era responsável pela introdução de 5 toneladas de cocaína por mês em território nacional com destino final ao exterior e Brasil”, apontou a PF.
Segundo as investigações, a cocaína era transportada em aviões de pequeno porte que partiam dos países produtores Colômbia, Peru e Bolívia, utilizando-se do espaço aéreo venezuelano com destino para fazendas no Brasil, na fronteira entre os estados do Pará e Mato Grosso. Depois de descarregada dos aviões do narcotráfico, a cocaína era colocada em caminhões e carretas, com fundos falsos especialmente preparados para o transporte da droga, cujo destino era o interior do estado de São Paulo para distribuição para facções criminosas paulista e carioca, ou o Porto de Santos/SP, de onde era exportada para Europa ou Estados Unidos.
“Trata-se de mais uma ação da Polícia Federal focada na desarticulação estrutural e financeira de organização criminosa de tráfico internacional de drogas e lavagem de dinheiro responsável por abastecer facções criminosas brasileiras e internacionais. Somente no ano passado a Polícia Federal desencadeou 121 operações contra o tráfico de drogas, com o sequestro de R$ 250 milhões em patrimônio ilegal e mais de 41 toneladas de cocaína”, afirma a Federal na nota.
Investigações
A Spectrum embasou-se em profundas investigações e ações de inteligência que conectaram as atividades ilícitas aos reais operadores do tráfico de drogas, bem como estabeleceu as conexões entre o patrimônio sujo da quadrilha e a traficância, encerrando a atual fase com a prisão de um dos maiores traficantes da América do Sul e o mais procurado pela Polícia Federal.
“As ações de hoje desarticulam o núcleo e comando do grupo criminoso, encerrando a continuidade das ações delitivas e estancando o ingresso de vultosas cargas de cocaína destinada ao uso no Brasil e no exterior, combustível que impulsiona o crime e violência em todo o mundo”, diz a nota da PF.
O descortinamento e sequestro de patrimônio ilegal também foram objetivos das ações deste sábado (1). Estimativas iniciais indicam que o patrimônio sequestrado somente nesta primeira fase da Operação Spectrum foi de aproximadamente, de US$ 10 milhões, concentrado em fazendas, casas, aeronaves, diversos imóveis e veículos de luxo importados.
A Polícia Federal em cooperação internacional com a polícia paraguaia receberá apoio para o cumprimento de buscas e apreensões no Paraguai, país onde Luiz Carlos da Rocha é proprietário de diversas fazendas e mantinha parte de suas operações criminosas.
“Somente na data de hoje, durante a deflagração da operação, foram sequestrados cerca de US$ 10 milhões em patrimônio. Cabe destacar que as investigações apontam que o patrimônio adquirido por Luiz Carlos da Rocha com o tráfico internacional de drogas pode atingir a soma de US$ 100 milhões, consubstanciado em veículos e imóveis no Brasil e em outros países (registrados em nome de “laranjas”), bem como em contas bancárias em paraísos fiscais, elementos que serão objeto da segunda fase da Operação Spectrum”, informa a PF.
Os presos responderão pelos crimes de tráfico internacional de drogas, lavagem de dinheiro, associação para o tráfico, falsificação de documentos públicos e privados e organização criminosa, com penas somadas que passam de 20 anos de prisão.