Rompendo as fronteiras nacionais, o futebol espanhol abandona a exclusividade de seu território e irá ter, pela primeira vez, jogos oficiais do campeonato disputados também nos Estados Unidos. Nesta quinta-feira, a direção da La Liga, empresa que organiza a competição, anunciou um acordo para realizar partidas do outro lado do Oceano Atlântico. A iniciativa foi considerada na comunidade do futebol europeu como um primeiro passo para uma transformação na organização de torneios pelo mundo.
O acordo assinado com a empresa Relevent, válido por 15 anos, também prevê eventuais jogos no Canadá. Stephen Ross, executivo norte-americano e dono de times como o Miami Dolphins, da NFL (liga profissional norte-americana de futebol americano) não esconde que o objetivo é o de ampliar a popularidade do futebol nos Estados Unidos, que receberá a Copa do Mundo de 2026.
Para os espanhóis, a iniciativa tem como meta expandir a fonte de renda dos clubes e da liga. Uma primeira partida poderia já ocorrer na atual temporada e envolveria o Real Madrid ou o Barcelona do meia argentino Lionel Messi.
Romper o tabu das fronteiras é algo que o esporte norte-americano já realizou há anos, com o basquete e o futebol americano promovendo partidas oficiais no México, Europa e mesmo na Ásia. Mas, no futebol, a resistência era importante. Em 2008, os ingleses da Premier League tentaram organizar partidas oficiais nos Estados Unidos. Mas uma reação negativa por parte de torcedores e políticos impediu que o projeto se concretizasse.
“Precisamos desenvolver nossa marca”, defendeu Javier Tebas, executivo que comanda o torneio espanhol. Preocupado com o avanço do dinheiro do Catar na França, da distância financeira da Inglaterra e da organização alemã, a Espanha espera conquistar o mercado norte-americano para poder competir nas próximas décadas com seus vizinhos.
Dados da consultoria Deloitte apontam que os clubes do Campeonato Espanhol geraram uma receita de 2,8 bilhões de euros (R$ 12,4 bilhões) em 2017. Mas o temor é de que, no maior mercado do mundo, os espanhóis vejam uma disparidade cada vez maior em comparação à receita dos times ingleses. Hoje, a NBC paga US$ 1 bilhão (R$ 3,88 bilhões) para transmitir o Campeonato Inglês por seis anos. Já os espanhóis recebem da beIN apenas US$ 120 milhões (R$ 466 milhões) por dois anos.
Nos últimos anos, os clubes espanhóis já haviam modificado os tradicionais horários de seus grandes clássicos para permitir que jogos pudessem ser transmitidos em horário nobre na Ásia, principalmente na China.
Em turnês pelos Estados Unidos, porém, os clubes espanhóis mostraram que podem lotar estádios e, mesmo em seus sites, qualquer jogo oficial é alvo de uma promoção global. O Barcelona, por exemplo, publica um mapa mundi com os diferentes horários de suas partidas, dependendo do fuso horário de cada país.
Citando um estudo de 2016, os organizadores da iniciativa apontam que das 47 milhões de pessoas que dizem acompanhar o futebol nos Estados Unidos, 33 milhões seguem o torneio espanhol. De cada três pessoas nos EUA que assistem ao esporte, um é de origem latina. Javier Tebas, porém, insiste que a partida que foi transferida aos Estados Unidos terá de passar pela autorização e interesse explícito dos clubes envolvidos.