Os advogados do ex-presidente da CBF José Maria Marin vão recorrer da decisão da corte de Nova York, caso a sentença que será anunciada nesta quarta-feira contra o ex-cartola inclua um período extenso de prisão ou uma pesada multa. A juíza americana Pamela Chan vai anunciar a sentença contra o brasileiro, já condenado por seis crimes e prejuízos milionários ao futebol.
A estratégia de defesa é recorrer à Corte de Apelação e, ao mesmo tempo, pedir que Marin aguarde a decisão em prisão domiciliar, valendo-se do fato de possuir um apartamento em Nova York e de ter demonstrado, entre 2015 e 2017, que não existiria risco de fuga. Assim, o objetivo é prolongar ao máximo uma decisão final, garantindo ao brasileiro mais tempo em sua própria residência. De acordo com sua defesa, o cenário de aceitar a culpa nos crimes denunciados, como fizeram os demais ex-cartolas presos pelo FBI, está descartado.
O Estado apurou com pessoas próximas a Marin que sua idade é um fator que tem pesado. A segregação teria deixado sequelas em um homem de 86 anos e que, mesmo no dia da humilhação da seleção pela Alemanha por 7 a 1 em 2014, foi obrigado a tomar remédios para aguentar o choque. Marin tem sido consultado pelo serviço de saúde da prisão nas proximidades de Nova York. Ele também tem sido medicado, diante de seus problemas de hipertensão arterial.
Vestido com um uniforme laranja, ele é um preso como qualquer outro no Centro de Detenção Metropolitana do Brooklyn. Detido no local desde dezembro de 2017, ele não conta com privilégios, as visitas são raras e se limitam aos seus advogados de defesa. Prestes a saber seu destino, o ex-presidente da CBF e ex-governador foi abandonado pela cúpula da CBF e, por instruções suas, pediu que sua mulher não o visite.
A questão da idade e o estado de saúde foram os argumentos usados pela própria promotoria americana para pedir uma sentença menor. Em documentos enviados à corte, eles alertam que seus crimes teriam de ser punidos por uma sentença de 24 anos. Mas admitem que o período seja reduzido para dez anos. Em troca, os promotores querem a aplicação de uma multa de R$ 26 milhões (R$ 103 milhões), duas vezes o valor da propina que ele recebeu.
Seus advogados usam a carta da saúde e a idade para tentar uma liberação imediata, mesmo diante da condenação. Além disso, dizem que uma multa não poderia passar de US$ 2 milhões (R$ 7,9 milhões). Para eles, Marin já cumpriu sua pena, diante dos cinco meses detidos na Suíça e outros oito em Nova York, além de mais de um ano em prisão domiciliar em seu apartamento na cidade norte-americana. A exposição midiática de sua prisão também seria um argumento para tentar convencer a juíza de que ele já foi devidamente penalizado.
Por outro lado, os americanos avisam que a sentença deve ser exemplar, mesmo diante dos 86 anos de Marin. Caso contrário, a mensagem que estaria sendo passada aos demais cartolas é de que o crime no futebol compensa.
Espelho da disparidade social que existe nos EUA, a prisão tem uma importante população de filhos de imigrantes latino-americanos e asiáticos. Ainda assim, a defesa de Marin afirma que um dos aspectos que deve ser levado em conta é o fato de ele não falar inglês e, portanto, estar ainda mais isolado. Com o número de registro # 86356053, suas ligações telefônicas são reguladas e a internet, proibida.
Mas o isolamento vai além. Pelas ordens determinadas pela Justiça americana, Marin não pode ter contato com outros indiciados no escândalo de corrupção da Fifa. Isso, portanto, inclui dois de seus maiores aliados: Marco Polo Del Nero e Ricardo Teixeira, o dirigente que colocou o ex-governador no cargo de presidente da CBF em 2012.
Já no julgamento em dezembro de 2017 ficou claro o afastamento entre Del Nero e Marin. Sentando no banco dos réus, o ex-governador deliberadamente acusou Del Nero de ser o organizador da propina. Numa carta enviada nesta semana à corte, Marin voltou a reforçar a tese de que ele teria apenas um “papel perfunctório” na estrutura de poder da CBF. Mas a promotoria deixou claro que ele chegou à presidência “com a mão estendida para as propinas”.
Sem a presença de seus antigos aliados, Marin também vive uma distância em relação à família. Sua esposa, que passou meses ao seu lado em Nova York durante a prisão domiciliar, não realizou visitas frequentes.
Se a juíza optar por uma punição severa nesta quarta-feira, não há garantias de que Marin continue na mesma prisão, já que uma parcela importante dos detentos no local apenas aguarda suas sentenças ou a conclusão de julgamentos.