Grupos pequenos apareciam de repente e faziam uma barricada, ateando fogo a pneus e madeiras. Quando a polícia se aproxima, em vez de resistência, a retirada rápida. Não muito longe, em outro ponto, novo bloqueio, levando à dispersão e divisão das forças da ordem, uma verdadeira “greve de guerrilha”. É assim que o comando da polícia de São Paulo viu a tática adotada pelos movimentos populares e sindicatos a fim de bloquear avenidas e impedir o tráfego no Estado na greve geral.
Para o comando da PM, “doutrinariamente”, a tática de ontem “é de guerrilha urbana”, com a “inquietação, intervenção e dispersão”. Os bloqueios feitos por manifestantes envolveram sem-teto que vivem em prédios tomados no centro. Cada grupo organizou uma ação.
Até as 19 horas, a PM havia registrado 22 prisões na Grande São Paulo – 16 na capital e cinco em Osasco. Três policiais foram feridos em confrontos – um dos quais atingido por uma garrafada no rosto. A Coordenação Operacional da PM colocou, desde as 5 horas, todas as Forças Táticas da PM nas ruas. A Tropa de Choque foi dividida entre a Marginal do Pinheiros e Guarulhos, por causa do Aeroporto de Cumbica.
Em todo Estado, aconteceram cerca de 50 pontos de bloqueio de vias – 30 dos quais na Grande São Paulo.
O protestos das centrais provocou outro efeito: o mapa da lentidão do trânsito na cidade feito pela Companhia de Engenharia de Tráfego ficou próximo de zero das 10h30 às 16 horas, mais de 80% abaixo da média inferior de congestionamento registrado nas sextas-feiras.
Esse efeito da greve foi sentido até pelo comandante-geral da PM, coronel Nivaldo Restivo. Ele planejou sair com uma hora e meia de antecedência para ir ao evento pela manhã em Pirituba, na zona oeste, e chegou uma hora adiantado. O trânsito também ajudou as forças de segurança, diminuindo o tempo de reposta da PM. “O resultado foi bom. Tínhamos como objetivo impedir o fechamento das ruas em São Paulo e não se manteve fechada nenhuma rua. Era o tempo de a unidade de serviço chegar, requisitar apoio, quando necessário, e desobstruir a pista.”
A greve contou ainda com a estratégia inédita neste tipo de manifestação: a parceria entre sindicatos e movimentos sociais. Enquanto sindicatos mobilizaram trabalhadores para fazer piquetes em portas de fábrica e demais locais de trabalho, movimentos como o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e a Central de Movimentos Populares (CMP) travaram vias importantes das cidades dificultando a chegada das pessoas aos locais de trabalho.
“É a primeira vez que tem uma greve com unidade entre o movimento sindical e movimentos sociais fazendo com que a população sentisse que não tinha como chegar ao local de trabalho”, disse Raimundo Bonfim, da CMP.
A CMP fez 22 ações em vias em São Paulo. A lógica era, segundo o líder do MTST, Guilherme Boulos, “dificultar o transporte”.