Diante do cenário de forte crise no mercado imobiliário – que levou a gigante PDG e a Viver a pedirem recuperação judicial -, o setor freou os lançamentos para reduzir o alto estoque de imóveis. Segundo pesquisa lançada pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), os lançamentos devem continuar em segundo plano ao longo deste ano, com a previsão de alguma retomada a partir de 2018.
A pesquisa da CBIC – a primeira de abrangência nacional sobre a saúde do mercado imobiliário – foi divulgada com exclusividade ao Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. De acordo com o levantamento, foram lançadas 59,3 mil moradias em 2016, enquanto as vendas líquidas atingiram 72,6 mil unidades. Ou seja: foram vendidos 13,2 mil imóveis a mais do que foram lançados no País, reflexo da preocupação das empresas em baixar seus estoques.
Em parte, a estratégia deu certo. No fim do ano, havia 129,2 mil apartamentos novos à venda, uma queda de 5,9 mil unidades (4,5%) em relação ao começo do ano. Entretanto, o estoque permanece alto, o que inibe a retomada de novos projetos e a criação de empregos na construção civil.
“Ainda não vemos sinalizações de que os lançamentos voltaram a ser feitos de forma mais agressiva. Há empresas altamente estocadas”, disse o presidente da CBIC, José Carlos Martins. Ele acredita que a recuperação do setor deve ser lenta, em paralelo à melhora do quadro econômico nacional. “Vejo o mercado decolando apenas em 2018.”
A gravidade da situação atual ficou evidenciada pelo pedido de recuperação da PDG, que chegou a ser líder do setor no País. A empresa pediu proteção judicial ao somar uma dívida de R$ 7,8 bilhões, sendo R$ 6,2 bilhões incluídos na recuperação judicial. Das 30 obras ainda em curso pela incorporadora, 17 estão paradas, gerando preocupações entre os consumidores. O plano só deve ser apreciado pelos credores no fim de maio.
Em setembro do ano passado, a Viver (antiga InPar) havia sido a primeira incorporadora de capital aberto a pedir recuperação judicial, com dívida de aproximadamente R$ 1 bilhão.
Mais enxuto. A pesquisa mostrou que o enxugamento do estoque foi maior em Curitiba, onde 2,2 mil moradias foram lançadas e 4,4 mil vendidas, representando 2,2 mil unidades a menos no mercado. Em seguida, a região metropolitana do Rio, onde a diferença foi de 2 mil apartamentos. Em comum, essas regiões tiveram excesso de lançamentos em anos anteriores.
O levantamento apurou os dados de comercialização de apartamentos residenciais novos em 20 cidades e zonas metropolitanas de todas as regiões do País – como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Fortaleza, Recife, São Luís, Manaus, Goiânia, Curitiba e Porto Alegre, entre outras.
O conjunto de municípios cobertos pela pesquisa representa 40% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Até aqui, não existia sondagem que permitisse a comparação das estatísticas de diversas capitais.
Perfil dos estoques
A pesquisa mostrou que, dos 129,2 mil apartamentos disponíveis para venda no fim do ano, 55% eram unidades em obras, 26,1% estavam prontas e 18,9%, na planta.
Para as empresas, o volume de unidades prontas é danoso, pois gera custos com condomínio e manutenção. Para os consumidores, representam compra com descontos. O estoque é formado por 47,2% de apartamentos de dois dormitórios, 31,7% de três dormitórios, 14% em unidades de um dormitório e 7% em unidades de quarto dormitórios ou mais.
Martins avalia que a queda da inflação e dos juros, somados à alta da confiança, devem contribuir para uma leve alta do nível de atividade no mercado nacional já em 2017, mas estima que as vendas continuarão maiores do que os lançamentos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.