Duas das maiores construtoras envolvidas na Operação Lava Jato, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa, conseguiram fechar 2016 com lucro, apesar da turbulência envolvendo o setor da construção civil. Um dos fatores que ajudaram a impulsionar os resultados foi a repatriação de recursos que estavam no exterior de acordo com a Lei 13.254, criada no ano passado para regularizar a situação de quem mantinha dinheiro fora do País.
No caso da Andrade Gutierrez, a construtora trouxe para o País R$ 590 milhões e pagou impostos e multas no total de R$ 130 milhões. O saldo líquido de R$ 458 milhões incrementou o resultado da empresa, que lucrou R$ 616 milhões – pouco abaixo do valor divulgado em 2015, de R$ 625 milhões. No período, a receita líquida da construtora recuou quase R$ 1 bilhão, de R$ 2,9 bilhões para R$ 2 bilhões, conforme dados do balanço do ano passado, publicado no sábado.
Fontes do setor afirmam que a repatriação dos recursos no exterior coincidiu com a necessidade de caixa da empresa para pagar as multas relacionadas à Lava Jato. Pelo acordo de leniência firmado pela Justiça Federal do Paraná, no ano passado, a Andrade Gutierrez tem de pagar, parcelado, R$ 1 bilhão a título de indenização.
Para fazer frente aos compromissos, a construtora pagou dividendos da ordem de R$ 200 milhões para a holding Andrade Gutierrez Investimentos, que controla a empreiteira. A empresa é a responsável pelas multas decorrentes da Operação Lava Jato. Procurada, a empresa não explicou o origem do dinheiro repatriado. Em nota, afirmou que “detinha recursos não declarados no exterior e em linha com a nova governança e política de compliance aderimos ao programa de repatriação em conformidade com a lei”.
Reversão
Na construtora da Camargo Corrêa, os recursos repatriados foram menores: R$ 29,6 milhões. De acordo com o balanço, também divulgado no sábado, a empreiteira conseguiu reverter um prejuízo de R$ 403 milhões em 2015 para um lucro de R$ 124 milhões. No período, as receitas líquidas da empresa caíram 38%, de R$ 3 bilhões para R$ 1,8 bilhão. Em contrapartida, os custos dos serviços prestados recuaram 43%, de R$ 2,6 bilhões para R$ 1,5 bilhão.
Conforme o balanço, as despesas com salários e benefícios a empregados recuaram 38%, para R$ 701 milhões. Os gastos com aluguel caíram para menos da metade; e os custos com locomoção, viagens e refeições despencaram 64%.
Pelo acordo de leniência firmado com o Ministério Público, em 2015, a empresa terá de pagar R$ 700 milhões, também de forma parcelada. A construtora ainda fechou acordo com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) referente às obras de montagem de Angra 3 e um Termo de Ajustamento de Conduta para colaborar com as investigações na Petrobrás e pagar R$ 104 milhões, em quatro anos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.