Economia

Argentina puxa exportação de carros

A Argentina está ajudando a amenizar a crise da indústria automobilística brasileira ao ampliar importações do País. As compras do vizinho cresceram mais de 50% no primeiro quadrimestre em relação a 2016, para 155,6 mil unidades. O número equivale a 67% do total de 232,2 mil veículos exportados pelas fabricantes no período, o melhor quadrimestre da história.

Outros países da região também estão comprando mais carros brasileiros, o que resultou até agora em crescimento de 64,2% nas vendas externas em comparação com os primeiros quatro meses de 2016, segundo dados divulgados ontem pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). “De cada três carros produzidos no País, um é exportado”, diz o presidente da entidade, Antonio Megale.

Ajudada pelas vendas externas, a produção de veículos cresceu 21% neste ano ante igual período de 2016, mesmo com a queda de 2,4% nas vendas internas. “Há previsão de crescimento de 3% do PIB argentino este ano e o país tem maior demanda por carros”, justifica José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

Demais economias dos países latino-americanos para onde o Brasil exporta também devem crescer, como México, Chile, Colômbia, Uruguai, Peru e Paraguai. Todos eles compraram mais carros do País este ano, mas o peso na balança comercial é pequeno. “Em valores, a Argentina importou de janeiro a abril US$ 1,41 bilhão só em automóveis, o equivalente a 68,7% dos US$ 2 bilhões registrados por esse segmento, ou seja, sem incluir veículos pesados e peças”, ressalta Castro.

A Volkswagen, maior exportadora de veículos do País, dobrou seus embarques para 60,3 mil unidades, das quais 32 mil foram para a Argentina – 128% a mais que em 2016.

O presidente da companhia, David Powels, ressalta também o aumento de contratos para outros 26 países da região. “Nossa participação nesses países cresceu de 2,1% para 3,2%”, diz. Em 2016, a Volkswagen exportou 107,3 mil veículos, número que deve chegar a 150 mil neste ano.

Das vendas externas da fabricante de caminhões e ônibus Volvo, 37% seguem para o Peru e 34% para a Argentina. “Sem as exportações, metade da nossa fábrica (em Curitiba) estaria parada”, diz Bernardo Fedalto, diretor comercial da Volvo.

O crescimento das exportações ainda não é sinal de que o carro brasileiro está mais competitivo globalmente. A alta decorre da melhora dos mercados latino-americanos onde as marcas locais estão presentes há décadas, dos recentes acordos comerciais e da melhora cambial, avalia Rogelio Golfarb, vice-presidente da Ford. “É claro que neste momento ajuda a produção, mas estamos longe de reduzir a ociosidade das nossas fábricas, até porque o crescimento desses países tem limites.”

De janeiro a abril a Ford exportou cerca de 25 mil veículos, 60% a mais que em 2016. “Infelizmente não é um crescimento sustentável”, admite Golfarb.

Ociosidade nas fábricas de veículos ainda é elevada
A produção de veículos no Brasil cresceu 20,9% no primeiro quadrimestre ante igual período de 2016, para 801,6 mil unidades. Apesar da alta, puxada pelas exportações, o setor opera com ociosidade média de 55% (52% nas fábricas de automóveis e 80% nas de caminhões e ônibus).

Em razão desse quadro, as montadoras mantêm 8.938 funcionários com jornada e salários reduzidos e 1.347 em lay-off (contratos suspensos). Em 12 meses, 8.419 trabalhadores foram demitidos. Hoje, o setor emprega 120,9 mil pessoas.

O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antonio Megale, espera melhora a partir do segundo semestre, quando, em sua opinião, as vendas devem melhorar – o saldo de janeiro a abril foi o pior para o período desde 2006, com 628,9 mil unidades vendidas.

O setor espera que as reformas trabalhista e da Previdência sejam aprovadas. Para Megale, essas medidas darão maior confiança aos investidores. “E isso certamente deve trazer mais investimentos para nosso setor.” Há alguns dias, executivos de 15 montadoras estiveram com o presidente Michel Temer para discutir a nova política industrial para o setor. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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