Economia

Crise na JBS bagunça mercado de boi gordo

O tamanho da JBS sempre preocupou os pecuaristas do País: um soluço na empresa, que em alguns Estados é responsável por mais da metade do abate de gado, afetaria toda a cadeia. Foi exatamente o que aconteceu depois de o setor ter sido atingido por duas crises seguidas – a Operação Carne Fraca e a divulgação da delação do empresário Joesley Batista, dono do frigorífico.

O preço da arroba despencou, os pecuaristas têm enfrentado obstáculos para receber antecipadamente o dinheiro da venda do boi gordo e, com medo de calote, vários bancos se recusam a aceitar notas promissórias emitidas pelo frigorífico.

Em maio, a cotação do boi gordo caiu 4,63%. Foi a maior retração no mês em 20 anos, segundo o Indicador Esalq/BM&FBovespa, calculado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da USP (Cepea).

Até a eclosão da crise envolvendo o dono da empresa, o frigorífico pagava à vista o pecuarista. Mas depois do episódio mudou o modelo de negócio. Passou a quitar a fatura em 30 dias, emitindo Nota Promissória Rural (NPR), cujo resgate antecipado em instituições financeiras tem sido uma dificuldade para os pecuaristas.

Segundo relatos, Banco do Brasil, Bradesco e Santander não estão antecipando o resgate da NPRs. “Na minha região em Juara (MT), houve casos de bancos que não quiseram descontar a NPR”, conta o vice-presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Luís Fernando Conte. Os bancos não comentam.

Até o banco Original, do mesmo grupo do JBS, mudou a conduta. Passou a exigir o aval do produtor na nota promissória para antecipar o pagamento, conta o pecuarista Murilo Mendes Abrahão. Isso significa que, se a empresa não quitar a fatura na data do vencimento, quem terá de pagar o banco é o produtor. O Original não comenta.

“Só tivemos uma crise tão grande no setor na época do Plano Cruzado, quando o boi foi laçado no pasto”, compara o pecuarista e vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira, Pedro de Camargo Neto. Ele afirma que os bancos não estão descontando as NPRs e diz que os produtores que aceitam vender para a JBS para receber num prazo de 30 dias estão “30 noites” sem dormir, temendo o calote.

“O problema está só começando. Existe um tumulto claro na cadeia da pecuária de corte”, adverte o vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira. Sessenta dias atrás, Camargo Neto conta que a entidade enviou carta a Maria Silvia Bastos, na época presidente do BNDES, alertando sobre o gigantismo do JBS no mercado de carnes e os impactos que poderiam ocorrer no setor com o envolvimento dos acionistas em inúmeras investigações. Na carta, pediam uma providência do BNDES.

Preços

A decisão do maior frigorífico do País de pagar a prazo pela compra de bois, a contragosto dos pecuaristas, provocou paralisia nos negócios com boi gordo. Isso aumentou o poder de barganha dos pequenos frigoríficos, que têm fôlego para pagar à vista, e com isso reduzir o preço. Esse movimento derrubou o valor da arroba.

No dia 31 de maio, a arroba fechou cotada a R$ 132,66, aponta o Cepea. Segundo Sergio De Zen, coordenador do Indicador Esalq/BM&FBovespa, a queda acumulada em maio deste ano, até o dia 31, supera de longe a retração de preços normal para o período, que é de 0,38%. Com a aproximação do período de entressafra, quando os pecuaristas precisam vender maiores volumes para abate a fim de enfrentar período de seca, normalmente o preço cai, mas não tanto como aconteceu neste ano.

Segundo De Zen, uma combinação de fatores levou a essa queda histórica nos preços. Entre eles, o especialista aponta o aumento de ganhos de produtividade do setor, os efeitos da crise da Carne Fraca, que afetou as vendas no mercado externo, e agora as restrições de crédito ao maior player do mercado.

“O mercado do boi magro também foi afetado”, observa o diretor técnico da Informa Economics FNP, José Vicente Ferraz, ponderando que o recuo nas últimas semanas nesse mercado não foi tão intenso quanto o registrado na cotação do boi gordo. Ele explica que agora seria auge das compras de boi magro para confinamento. Mas, por conta da insegurança, esse mercado está travado.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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