O jornalista Luiz Fernando Emediato renunciou ontem ao cargo de presidente do comitê de investimento do FI-FGTS, fundo que usa parte dos recursos do FGTS dos trabalhadores para aplicar em projetos de infraestrutura. Ligado à Força Sindical, Emediato havia sido eleito para o posto no fim de maio, mesmo depois de ter sido citado em delações de executivos da Odebrecht e da JBS, como revelou o Estadão/Broadcast.
Os delatores acusaram Emediato de ter recebido propina para liberar recursos do FI-FGTS para a Odebrecht Transport (braço de transportes do grupo) e para beneficiar a J&F, controladora da JBS, no período em que trabalhou no Ministério do Trabalho. Emediato nega as acusações.
À época da eleição, a bancada governista tentou dissuadi-lo de assumir o posto no órgão responsável por decidir sobre os aportes do fundo, e dois dos cinco representantes presentes à reunião chegaram a se abster de votar por constrangimento.
O comitê de investimento do FI-FGTS tem representantes do governo, dos trabalhadores e dos empregadores. Por rodízio, a presidência – com mandato de um ano – teria de ficar, desta vez, com um representante dos trabalhadores. Com a renúncia de Emediato, foi eleita Suzana Ferreira Leite, ligada à União Geral dos Trabalhadores (UGT).
Com assento. Apesar da renúncia à presidência do comitê de investimentos, o jornalista não abdicou de seu assento no colegiado e continua atuando como representante dos trabalhadores nas decisões sobre as aplicações do fundo.
Após registrar prejuízo histórico em 2015, o FI-FGTS está passando por uma reformulação para melhorar os processos de escolha dos projetos que recebem dinheiro do fundo. O balanço de 2016 ainda não foi publicado, mas deve ficar no azul. No ano anterior, fechou com a menor rentabilidade da história, negativa de 3%, com perda de patrimônio de R$ 900 milhões.
O ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura Benedicto Junior, e o ex-presidente da Odebrecht Transport, Paulo Cesena, disseram, em delações premiadas da Operação Lava Jato, que houve pagamento de propina para que o braço de transportes do grupo fosse capitalizado pelo fundo.
O intermediário para a liberação dos recursos foi o ex-deputado federal Eduardo Cunha, que teria cobrado propina de 1% do valor da operação, segundo os delatores. O ex-deputado justificou o valor do suborno de R$ 4 milhões dizendo que teria de repassar dinheiro a Fábio Cleto, na ocasião vice-presidente de Loterias da Caixa, e para três conselheiros do FI-FGTS, entre eles o jornalista Emediato, dono da editora Geração Editorial.
Após o pagamento do suborno, o aporte de R$ 429 milhões foi liberado. Procurado, Emediato disse que nunca votou a favor ou contra qualquer projeto da Odebrecht. “Logo, não tenho nada a ver com isso.”
Além da Odebrecht, o FI-FGTS também foi alvo de denúncias do empresário Joesley Batista, dono da JBS. Em sua delação, ele disse que pagou R$ 90 milhões a Cunha para liberar recursos do fundo. O ex-diretor de Relações Institucionais do grupo J&F, Ricardo Saud, disse, na delação, que Emediato recebeu R$ 2,8 milhões como forma de influenciar favoravelmente a empresa enquanto membro do conselho deliberativo do FAT.
Emediato confirmou que Saud o procurou nos dez meses em que trabalhou no Ministério do Trabalho. “Incomodado com a fiscalização dos frigoríficos da JBS, ele realmente pediu ao MTE uma fiscalização rigorosa dos demais frigoríficos e em seus delírios propôs pagar aos fiscais por isso. Ninguém o levou a sério”, afirmou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.