Esportes

Luvas pagas por novos contratos de TV levam times do Brasil a ter receita recorde

Os clubes brasileiros tiveram receita recorde em 2016. Juntos, 19 que estão atualmente na Série A do Campeonato Nacional e o Internacional, rebaixado à Série B, registraram entradas de R$ 4.774,2 bilhões no ano passado, ante R$ 3.694,6 em 2015, crescimento de 29,2%. No entanto, o céu ainda não é de brigadeiro. Os bons números foram ajudados pelo recebimento de luvas pelos novos contratos de TV. Como essa não é uma receita recorrente, há risco considerável de ocorrer redução este ano. A não ser que os clubes encontrem outras alternativas de ganhos.

Essa é a conclusão do consultor Pedro Daniel, especialista em gestão esportiva e responsável pela área Sports Management, da BDO Brasil. Sua análise, feita com exclusividade para o jornal O Estado de S.Paulo com base nos balanços dos clubes, mostra que os números, embora positivos, podem não ser tão bons quanto parecem.

“O maior impacto em termos de receita foram os contratos de TV. O recorde em relação à receita é basicamente em função da contabilização de luvas”, disse Pedro. “Mas no ano que vem provavelmente os números tendem a não ser positivos, a não ser que (os clubes) encontrem novas fontes de receita”.

O alerta se justifica. Vários clubes colocaram em seus balanços o valor recebido como luvas pelos novos contratos de direitos de transmissão (basicamente para o período de 2019 a 2024). Como não é uma receita que ocorra com regularidade, não se repetirá, por exemplo, no exercício atual. A consequência é o risco de o dinheiro que entra ficar mais curto.

Uma das saídas para manter as receitas em patamares semelhantes às do ano passado é uma prática bastante conhecida: a negociação de jogadores. Pedro Daniel acredita até que alguns clubes precisarão recorrer a ela em pouco tempo. “Nessa busca por fontes de receita, muito provavelmente vai ocorrer no segundo semestre deste ano a necessidade de venda de atletas, numa situação semelhante à de 2015”, afirmou.

As luvas da TV serviram para alavancar o balanço de muitos clubes. Vários deles, porém, não recorreram a ela para melhorar as suas receitas. Ou então colocaram valores parciais, como o Flamengo, que “pegou” R$ 70 milhões das luvas e deixou provisões para 2019 e 2021. Já o Palmeiras não recebeu luvas em 2016.

LADO BOM – Há, porém, aspectos positivos. Dos 20 clubes analisados, apenas três (Internacional, Cruzeiro e Avaí) apresentaram queda em suas receitas em comparação com 2015. E muitos apresentaram excelente crescimento. O Flamengo foi o dono da maior receita, com R$ 510 milhões. O Corinthians veio a seguir com R$ 485,4 milhões, pouco mais que o Palmeiras (R$ 468,6 milhões). Foram verificadas outras variações positivas destacáveis, como as de Santos (74%) e Grêmio (72%). O endividamento também teve redução significativa.

Pedro Daniel observa outro fator positivo: o endividamento tributário, de maneira geral, está consolidado. Isso graças ao Profut, o programa de refinanciamento das dívidas fiscais e tributárias com o governo federal.

No entanto, o pagamento das parcelas dos Profut exigirá mais recursos dos clubes a partir de outubro. Neste mês, o desconto nas parcelas passa a ser de 25%, em vez dos 50% que está em vigor nos dois primeiros anos do programa. “Ou seja, a parcela do imposto vai aumentar. A situação muda um pouco, mas imagino que os clubes já estão provisionando para isso”.

BONS E MAUS EXEMPLOS – Palmeiras e Flamengo seguem sendo os melhores exemplos de gestão, na análise do consultor da BDO. O clube alviverde, que tinha endividamento alto por conta de empréstimos para investimentos, já está quitando os compromissos, amparado pelo crescimento das receitas – tem o maior faturamento com patrocínio do País, o maior ganho com bilheteria e aumentou as receitas em 20%.

O time rubro-negro reduziu o custo da dívida e, com o refinanciamento do Profut, entre outras ações, conseguiu voltar a bom patamar de receitas.

Já o Corinthians tem problemas, na visão de Daniel. “Está com um nível de exposição muito alto por causa da arena. Não tem receita de bilheteria com o estádio, que vai para um fundo, e tem um passivo de curto prazo muito alto. É problema de fluxo de caixa. Está vendendo atletas e não está repondo”.

O Internacional também precisa tomar cuidado. Rebaixado à Série B, que disputará este ano, tem de subir também por segurança financeira. “Vai ter receita de Série B, mas tem contratos e despesas da Série A. Se ele não subir, o contrato vira de Série B. Por isso, é um ano mais perigoso para ele do que para os outros”, alertou o consultor.

EMPRÉSTIMOS – A entrada de mais dinheiro nos caixas dos clubes em 2016 também teve como fator salutar a redução dos endividamento com os empréstimos. Dos 20 clubes analisados, 13 terminaram 2016 devendo menos do que no ano anterior.

“É um ponto bastante positivo. Diminuíram os empréstimos. É o tal negócio: como eu recebi luvas, consigo quitar aquilo que está me impactando a curto prazo. O grande aumento de receita acabou por diminuir o endividamento”, observou Pedro Daniel.

Palmeiras, São Paulo, Corinthians e Santos, os paulistas considerados grandes, estão entre os clubes que conseguiram reduzir as dívidas.

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