O delegado de Itumbiara (GO), Ricardo Chueire, divulgou ontem um vídeo que mostra o irmão do candidato ao governo do Tocantins pelo PMDB, Marcelo Miranda, pagando a conta de hotel de um dos presos suspeitos de crime eleitoral ao tentar embarcar, no dia 18, em avião com R$ 504 mil e cinco quilos de santinhos de Miranda e também do candidato a deputado federal Carlos Gaguim (PMDB), em Piracanjuba (GO).
Nota de despesa e o comprovante de pagamento com cartão de crédito confirmam que a conta de Douglas Marcelo Alencar Schmidtt, no Athenas Plaza Hotel, em Goiânia (GO), foi quitada pelo empresário José Edmar Brito Miranda Júnior, irmão de Miranda. Schmidtt, de 39 anos, o motorista Marco Antônio Jayme Roriz, de 46 anos; o estagiário Lucas Marinho Araújo, de 24 anos, e o piloto Roberto Carlos Maya Barbosa, de 48 anos, foram presos em Piracanjuba (GO), dia 18, quando se preparavam para embarcar num avião Cessna, com o dinheiro e os santinhos.
A apreensão ocorreu durante uma operação do Grupo Especial de Repressão a Narcóticos de Itubiara, que investiga o uso de pistas de pouso clandestinas por traficantes de drogas.
Apontado como líder do grupo, Schmidtt ficou no hotel do dia 12 ao 17, um dia antes de ser preso em Piracanjuba, a 85 quilômetros de Goiânia. A conta, de R$ 931,25, foi paga às 21h29 do dia 17. O candidato Marcelo Miranda não quis se manifestar sobre o assunto. O empresário Brito Miranda Júnior não foi encontrado. A advogada Natália Spadoni, que defende os quatro acusados, não quis se pronunciar.
O delegado responsável pelo caso, Ricardo Chueire, disse que, além dos R$ 504 mil, foi movimentado pouco mais de R$ 1 milhão na poupança de Lucas Marinho Araújo, que seria o laranja do esquema. Depois da retirada dos R$ 504 mil, o restante teria sido transferido para outras três contas. O delegado conseguiu o bloqueio das contas e informou que também pretende pedir à Justiça a quebra do sigilo bancário dos quatro envolvidos. Vai investigar, ainda, a quem pertence a Hilux usada por eles.
Os quatro detidos foram soltos dia 21, após o pagamento de fiança. Vão responder por lavagem de dinheiro, associação criminosa e crime contra a ordem tributária. Schmidtt também foi indiciado por omitir informações e prestar falsas declarações à polícia. Ao ser detido, ele declarou ao delegado Rilmo Braga Cruz Júnior que o dinheiro seria usado na campanha de Marcelo Miranda, cujos bens foram bloqueados pela Justiça. Na delegacia, depois de falar com advogados, mudou a versão, dizendo que havia retirado o dinheiro numa empresa de factoring de Brasília, para pagar dívidas de sua empresa, a Triple Consultoria.
A Polícia Civil de Goiás enviou os dados da apreensão ao Tribunal Regional Eleitoral do Tocantins (TRE-TO) e à Procuradoria Regional Eleitoral. Marcelo Miranda, que governou o Tocantins de 2003 a 2009, foi cassado por abuso de poder econômico e político na eleição de 2006 e está inelegível até 1.º de outubro deste ano. O Tribunal Regional Eleitoral do Tocantins (TRE-TO) deferiu a candidatura, levando em conta que a eleição é em 5 de outubro.
Na semana em que ocorreu a apreensão da aeronave e dos R$ 504 mil, Miranda teve todos os bens bloqueados pela Justiça a pedido do Ministério Público Federal (MPF-TO), por suspeita de desvio de R$ 20 milhões durante o seu governo, por meio de uma Organização de Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.