O Brasil enfrenta a falta de teste para diagnóstico de tuberculose latente, aquela em estágio inicial, em que o paciente é assintomático. O problema ocorre porque o laboratório produtor dos kits, na Dinamarca, foi vendido e interrompeu a fabricação.
O governo brasileiro foi avisado no primeiro semestre, quando fazia a encomenda para o período de 2014/2015. O Ministério da Saúde está discutindo as alternativas: a compra de testes mais caros para grupos vulneráveis ou a transferência de tecnologia para fabricação nacional. Já há falta dos kits nos Estados.
O teste tuberculínico ou PPD (derivado de proteína purificada, na sigla em inglês) é um exame subcutâneo em que uma fração do bacilo de Koch, bactéria causadora da tuberculose, é injetada no braço. Se houver reação, indica que o paciente foi infectado. Ele ainda está assintomático e não transmite a doença. Nesse caso, inicia-se o tratamento preventivo da tuberculose, com apenas um medicamento – a tuberculose ativa é tratada com um coquetel de remédios.
O exame é indicado para menores de 5 anos, que morem com pessoas contaminadas; para pacientes com baixa imunidade (HIV positivo ou portadores de doenças inflamatórias autoimunes, como artrite reumatoide, psoríase, doença de Crohn, que serão tratados com medicamentos imunossupressores); e profissionais de saúde.
Em Estados como São Paulo e Rio de Janeiro, os kits acabaram em junho. “Esse não é um problema do governo brasileiro. Há dinheiro para comprar, mas não há quem venda. Agora, é discutir o que fazer, como substituir”, disse Margareth Dalcolmo, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e integrante do comitê técnico que assessora o Ministério da Saúde.
“A recomendação do Ministério da Saúde em caso das crianças é radiografá-las. Se não estiverem doentes, e conviverem com pessoa com tuberculose, deve-se iniciar o tratamento profilático”, explica ela, para quem, no caso de pacientes com HIV e doenças inflamatórias autoimunes, a “decisão é mais complexa”. “Para esses grupos de maior risco, sem dúvida seria desejável que tivéssemos acesso ao PPD ou a outros tipos de testes.”
Nos Estados Unidos, o PPD foi substituído pelo Igra (ensaios de detecção de interferon gama em sangue, na sigla em inglês), exame mais caro, o que dificulta a compra em larga escala. “Esse exame está disponível em laboratórios privados. É caro. Há a sugestão de que testes Igra sejam incorporados ao Programa de Controle da Tuberculose, mas isso depende de estudos econômicos. Outra sugestão é que a tecnologia de produção do PPD seja transferida para alguma laboratório brasileiro”, afirmou.
O presidente da Sociedade de Pneumologia do Rio de Janeiro, Domenico Capone, criticou a demora por uma solução. “Esse rastreamento é fundamental porque dá o panorama da tuberculose e inclusive ajuda a excluir outras doenças. A resposta do Ministério da Saúde precisa ser rápida”, defendeu.
Para Roberto Pereira, integrante do Fórum de ONGs de Combate à Tuberculose, a falha foi a dependência do mercado internacional. “Não podemos ficar à mercê da decisão da cadeia de produção internacional. Temos que ter autonomia. O que estamos sugerindo é que o Laboratório do Exército assuma a fabricação do PPD”, afirmou. O Ministério da Saúde não havia se pronunciado sobre a questão até as 19h.