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Escândalo da Petrobras distorce custos de captação

O escândalo da Petrobras distorceu a referência de preço das captações externas brasileiras e as chances de alguma companhia do País acessar o mercado de dívida internacional, que dependem em grande medida da divulgação do balanço auditado da petroleira, prometida para maio. Profissionais ouvidos pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, dizem que se a companhia conseguir acalmar os investidores, alguns emissores que estão desde o ano passado esperando para recomprar papéis ou para realizar operações pontuais podem avistar uma oportunidade. Mas nada que se equipare aos montantes robustos e recorde dos últimos cinco anos e aos custos historicamente baixos recentes.

“Não só os bônus da petroleira, assim como os demais quase soberanos, que sempre foram parâmetro de custo para novas colocações, operam no mercado secundário como se não tivessem o grau de investimento”, disse um profissional de banco estrangeiro que preferiu não se identificar. “Seria preciso que o Tesouro viesse primeiro para sinalizar um piso para esse custo”, acrescentou. Ainda assim, prossegue, vale lembrar que além da volatilidade nos preços, o País não está crescendo e as companhias já buscaram bastante dinheiro no exterior nos últimos anos.

De acordo com profissionais do mercado da dívida, os bônus 2024 da Petrobras eram cotados na média em torno de 107% do valor de face ao final de outubro e atualmente operam em torno de 93% do valor de face. Esses valores implicam que o retorno (yield) do bônus 2024 da Petrobras saiu de 5,30% na média para 7,30%, equivalente a títulos de dívida de empresas com rating BB, abaixo do grau de investimento, segundo os profissionais consultados.

Além das preocupações com os fundamentos da petroleira, os preços foram sendo puxados para baixo por fatores técnicos de mercado, relacionados a ausência de interessados em adquirir o título. “Quem quer sair de Petro precisa colocar o preço para baixo e isso causa um impacto relativo sobre outros bônus brasileiros, com maior efeito nos bônus do Tesouro e outros créditos relacionados ao setor público”, disse um profissional de banco estrangeiro que não quis se identificar.

O vice-presidente de renda fixa da INTL FCStone, Rodrigo Steiner, observou ainda que os eventos recentes envolvendo a Petrobras levaram alguns bancos a pararem de alavancar compras de bônus da petroleira. “Isso tem forçado alguns clientes a se desfazerem das posições para honrar o financiamento que tomaram na alavancagem da posição”, disse. Steiner explica que a garantia do “empréstimo” tomado para comprar a posição é o bônus e que a oscilação de preço do papel provoca uma chamada de margem, já que o empréstimo é feito em cima do valor do título no momento da compra e as diferenças são acertadas ao longo do tempo com o banco. Hoje, alguns bancos estão chamando margem e não renovando operações, diz.

De todo modo, já começam a aparecer alguns compradores para os papéis mais curtos da petroleira, conforme relatam parte dos operadores do mercado secundário de dívida. Esses investidores seriam clientes de private banking e fundos de hedge, especialmente os norte-americanos. “São investidores que apostam em uma solução para a empresa e acreditam que em última instância estão comprando um papel com a garantia do governo”, disse um trader.

No secundário, comenta-se ainda que na semana passada começaram a aparecer compras em setores brasileiros como o de proteínas, que têm grande parte de suas receitas em dólar. Um outro profissional do mercado de dívida, que também atua junto a banco estrangeiro, disse ainda que os segmentos de papel e celulose e de serviços podem ser atraentes para os investidores.

O Brasil é um emissor importante para os fundos, representando entre 40% a 60% das colocações feitas de títulos de dívida pela América Latina anualmente. A Petrobras é o papel com maior presença nas carteiras dos investidores estrangeiros que compram Brasil. A ausência do País nas colocações primárias e as incertezas em relação aos desdobramentos dos problemas envolvendo a Petrobras e as outras empresas citadas nas investigações de contratos superfaturados da petroleira têm levado os fundos a comprar papéis chilenos, do Peru e México, disse Steiner.

A ausência do Brasil no mercado de dívida por tão longo período é praticamente inédita, com o País captando volumes recorde desde 2009. Mas as captações externas da América Latina também caíram neste ano em relação ao começo do ano passado. De acordo com outro profissional que opera para banco estrangeiro, as emissões latino-americanas caíram 49% para US$ 8,776 bilhões. Entre emergentes, foram captados até agora US$ 36,26 bilhões, segundo a Dealogic. No ano de 2014, os emergentes emitiram US$ 366,28 bilhões em bônus e notas. A estimativa dos profissionais para esse ano é de que as captações por emergentes girem em torno desse número, lembrando que entre US$ 310 bilhões e US$ 315 bilhões devem ser exigidos para honrar papéis que estão vencendo e o pagamento de juro.

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