A família de Renata Paiva Ferreira, de 40 anos, mal havia se recuperado do último alagamento quando no sábado viu a rua na frente da sua casa, na Vila Itaim, extremo da zona leste da capital, ser alagada pela terceira vez no ano. A situação só surpreendeu os moradores por ter acontecido desta vez em junho, mês em que normalmente há menos chuva.
Segundo a Defesa Civil, o distrito de São Miguel Paulista, do qual faz parte a Vila Itaim, registrou 137,5 milímetros de chuva entre sexta e terça-feira – mais do que o dobro da média histórica para todo o mês. “A única coisa que nos surpreende é que o alagamento veio em um mês que nunca tinha acontecido. Infelizmente, essa situação já faz parte da nossa rotina durante o verão. Não perdi nada dessa vez porque não temos mais móveis, estragou tudo na última enchente, no mês de março. Dormimos em colchões no chão”, disse Renata.
Os três filhos dela não foram à escola nesta semana porque para sair de casa é preciso enfrentar a água até a altura dos joelhos. A cheia é proveniente do Rio Tietê e da Lagoa da Vila Itaim. “Quando tem enchente, as crianças ficam com disenteria e minha cunhada já teve leptospirose”, contou Renata, enquanto dava bronca em um sobrinho para que não encostasse os pés na água suja.
Empurra-empurra
No ano passado, a Prefeitura e o governo estadual assinaram um convênio pelo qual o Estado se comprometeu a construir um minipiscinão, um pôlder, para conter as águas do Rio Tietê, como compensação pela construção das pistas expressas da Marginal do Tietê.
O Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), autarquia do Estado responsável pela obra, afirmou que está fazendo as desapropriações dos imóveis para a construção do pôlder. O órgão informou ainda que aguarda a definição judicial dos valores das indenizações dos proprietários e que, somente depois que obtiver a posse dos imóveis é que iniciará a licitação para execução da obra.
Responsável por reassentar as famílias dos imóveis desapropriados, a Prefeitura informou que não é possível remover os moradores sem um prazo para que a obra fique pronta, por causa do risco de novas ocupações no local. A administração municipal estuda entrar com uma ação contra o Estado por “inadimplemento” das obras.
O DAEE informou ainda que o alagamento é decorrente de problemas no sistema de microdrenagem do bairro, de responsabilidade da Prefeitura, e não por transbordamento do Tietê. A Prefeitura nega e afirma que os córregos da região receberam serviços de limpeza e zeladoria duas vezes neste ano, a mais recente em abril. As bocas de lobo e galerias também seriam limpas periodicamente.
A Prefeitura informou também que, além do pôlder, o desassoreamento do Rio Tietê é indispensável para evitar novos alagamentos. O DAEE disse que esse é um trabalho feito constantemente.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.