As vendas do setor de higiene e cosméticos no Brasil cresceram nominalmente 11% este ano, chegando a um patamar de R$ 101,7 bilhões de faturamento, segundo dados da Euromonitor compilados pela Associação Brasileira de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec). Embora menor do que em anos anteriores, o crescimento ainda é considerado positivo pelo setor. Para 2015, porém, o presidente da Abihpec, João Carlos Basilio, vê um cenário mais delicado.
A média de crescimento do setor entre 2002 e 2013, de acordo com a Euromonitor, chegou a 17,6% ao ano. “Estávamos acostumados a um ritmo de crescimento maior e ficamos um pouco abaixo da nossa expectativa”, diz Basílio. “Considerando, porém, o cenário da nossa economia, temos que comemorar”, completa. Visto como um setor mais resiliente, o comércio de produtos farmacêuticos, de higiene e beleza chegou a desempenhar melhor em 2014 até mesmo do que o varejo de alimentos (hipermercados e supermercados), de acordo com os dados do IBGE.
As expectativas para este ano, porém, são menos animadoras e a explicação está no cenário de preços. A Abihpec preferiu não fazer projeções específicas para o ano porque vê incertezas. Impactos de mudanças na tributação e do câmbio tendem a afetar as vendas num ano em que a disponibilidade de renda segue apertada e as perspectivas para a inflação ainda são pessimistas.
Apesar da desvalorização do Real, Basílio considera que foi possível contornar as pressões de preço em 2014, o que ajudou no resultado. “Esse é um mercado muito sensível a preço e estamos preocupados com o futuro”, acrescenta.
A decisão do governo de passar a cobrar IPI no atacado do setor de cosméticos, que entra em vigor em 1º de maio, já tem levado a uma alta nos preços dos produtos pela indústria. Segundo a Abihpec, esse aumento pode chegar a até 12% acima da inflação e os fabricantes já se anteciparam ao efeito do imposto e estão aplicando os aumentos nas vendas ao comércio.
A Abihpec considera que 2015 até aqui vem trazendo uma “tempestade” de elementos negativos. Além dos impostos, há a inflação e a desvalorização do real num ritmo maior do que o previsto pela indústria até o ano passado.
Na avaliação de Basílio, é possível que todos esses fatores combinados forcem uma migração do consumidor para marcas mais baratas. Pesquisa da Kantar Worldpanel com dados de dezembro do consumo tanto de itens de higiene e limpeza como de alimentos mostra que há uma queda na frequência de compra de produtos mais sofisticados e substituição por marcas mais populares.
A medida de cobrança de IPI nas distribuidoras, implementada por decreto publicado pela Receita Federal, ainda está sendo contestada pelo setor. A Abihpec diz que mantém negociações em Brasília e, ao mesmo tempo, diferentes distribuidoras entraram com ações na Justiça.
A primeira decisão obtida foi favorável ao setor. Uma distribuidora obteve na Justiça de Minas Gerais uma decisão liminar que suspende a cobrança de IPI na atividade de distribuição. A decisão ainda é um primeiro passo da disputa judicial, que tende a evoluir para outras instâncias. Segundo Basílio, ainda não foi decidido se a Abihpec também entrará com representação judicial. Somente neste caso uma decisão favorável seria estendida a todo o setor e não apenas a cada distribuidora individualmente.